domingo, 13 de setembro de 2015

MEIO CORTE

                                                           
A senhora ao chegar ao seu prédio, viu uma cobra adormecida à entrada. Arrepiou-se e gritou por socorro, enquanto fugia a sete pés. Um grupo de jovens acorreu aos gritos mas quando viu do que se tratava, escapuliu.

Um idoso que vinha a passar, apoiado numa bengala, aproximou-se e num golpe forte e certeiro, esmagou a cabeça do réptil.

-Já pode entrar minha senhora. A cobra veio deste matagal à sua porta. É necessário alertar os serviços municipais para que este canteiro, com ervas até à cintura, seja limpo.

Mal entrou em casa, mesmo antes de pousar a carteira, telefonou aos serviços que lhe prometeram actuar.

Alguns dias depois, ao chegar a casa teve de esfregar os olhos, certificando-se que não estava a sonhar: o canteiro que abrangia dois prédios, o espaço entre as entradas, estava todo limpo do seu lado mas do outro, continuava com a erva até à cintura.

Um vizinho que morava no prédio do matagal deu uma gargalhada e disse:

-Talvez consiga ainda hoje resolver o assunto…

-Era bom que assim fosse…-respondeu-lhe sorrindo a vizinha – pensando que seria difícil a um homem pobre e sem influência resolver o problema
.
Pela tardinha, qual não foi o espanto da senhora, ao verificar que uma brigada limpava com todo o rigor a metade do canteiro que fora deixada sem intervenção da outra vez. A comandá-los estava um homem com a metade direita do cabelo cortado e, do lado esquerdo uma farta cabeleira. Ao seu lado, em amena cavaqueira, o seu vizinho, o tal que prometera solucionar a questão.

Completada a tarefa, percebeu como se tinha resolvido o assunto tão depressa, ao ouvir o diálogo entre o chefe e o seu conhecido do prédio ao lado:

-Então vamos lá completar o corte do seu cabelo…

-Já não é sem tempo… -desabafou o chefe da cabeça semi-rapada.

Jorge C. Chora


Sem comentários:

Enviar um comentário