sexta-feira, 18 de setembro de 2015

FORA!

          
As leituras fazem -lhe mal,
causam-lhe urticária,
obrigam-na a pensar,
enrugam-lhe a testa,
ferem-lhe os olhos,
estragam-lhe a cútis,
afundam-na em preocupações,
aborrecem-na mortalmente.
Deusifica a ignorância
que a liberta
do peso dos outros,
das chatices do mundo,
das obrigações que não sente ter,
nem nunca foram dela.
Abaixo a cultura,
fora com a solidariedade,
abaixo os  refugiados,
que se lixem os outros
que não fazem cá falta nenhuma.
Ai de quem me aponte o dedo e diga:
-São seres humanos como tu!
Isso é que era bom!
Como eu? Eu não fui parida,
nasci de uma deusa, fui iluminada
ab initio, por divindades, a insensibilidade
foi-me dada a beber
e nem uma gota deixei,
fui investida na sabedoria,
definitiva, completa e inteira,
e só por uma enorme injustiça e prepotência
me impõem seres de outras culturas
que não a minha
e grito para que todos ouçam:
Fora com os refugiados!

Jorge C. Chora





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