Pingos de suor escorriam-lhe da testa. Limpou-a com o lenço
e tirou o boné. O homem à sua frente alertou-o:
-O senhor tem um envelope no interior do seu boné…
-Obrigado. Eu sei…tem dinheiro…
-Não era mais seguro tê-lo no bolso?
-Não…no meu caso não… – esclareceu o dono do envelope.
Surpreendido com a resposta e sem perceber nada,voltou à
carga:
-No seu caso?
-Ó homem, eu sou motorista de camião…quando me mandam parar,
tiro o boné e digo-lhe,desculpe-me…eu só quero trabalhar… e ele tira ou não tira…
serve-se ou não se serve…
E nesse preciso momento, um pombo que debicava o chão da
esplanada, voou e levou-lhe o envelope, deixando no seu lugar um cocó mole como
à papa.
Bem saltou o espoliado, bradando ordens e insultos audíveis
em toda a praça:
-Anda cá canalha…torço-te o pescoço quando te apanhar…vai
roubar para outro lado…
E o pombo voou, lá para os lados de um orfanato, onde se
agradeceu à Virgem Santíssima a chuva de notas caída do céu e as refeições
melhoradas a que os utentes tiveram direito.
Que se saiba, o pombo nunca foi apanhado.
Jorge C. Chora
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