quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

O RECHEIO DO BONÉ


Pingos de suor escorriam-lhe da testa. Limpou-a com o lenço e tirou o boné. O homem à sua frente alertou-o:

-O senhor tem um envelope no interior do seu boné…

-Obrigado. Eu sei…tem dinheiro…

-Não era mais seguro tê-lo no bolso?

-Não…no meu caso não… – esclareceu o dono do envelope.

Surpreendido com a resposta e sem perceber nada,voltou à carga:

-No seu caso?

-Ó homem, eu sou motorista de camião…quando me mandam parar, tiro o boné e digo-lhe,desculpe-me…eu só quero trabalhar… e ele tira ou não tira… serve-se ou não se serve…

E nesse preciso momento, um pombo que debicava o chão da esplanada, voou e levou-lhe o envelope, deixando no seu lugar um cocó mole como à papa.

Bem saltou o espoliado, bradando ordens e insultos audíveis em toda a praça:

-Anda cá canalha…torço-te o pescoço quando te apanhar…vai roubar para outro lado…

E o pombo voou, lá para os lados de um orfanato, onde se agradeceu à Virgem Santíssima a chuva de notas caída do céu e as refeições melhoradas a que os utentes tiveram direito.

Que se saiba, o pombo nunca foi apanhado.


Jorge C. Chora

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