Gioa amava Hilarião, mas mais esquivo do que ele não havia.
Conheciam-se desde a primária, moravam na mesma aldeia, ele no número três e
ela, no cinco da mesma rua.
Gioa nunca se declarara porque corriam rumores sobre
Hilarião, que o davam como inapto para a reprodução. Isso e o facto de ele ser
excessivamente tímido,impediam Gioa de deslindar o mistério.
Farta da situação, resolveu tomar a iniciativa. O barbeiro
da aldeia era amigo de ambos e fora também colega de escola. Um dia apanhou-o a
jeito:
-Desculpa-me António mas, quero falar contigo sobre o
Hilarião.
-A tua paixão de sempre…o que queres saber?
-Bom…tu conheces-me
bem e é escusado negar…há por aí uns boatos sobre a virilidade do Hilarião…
-Não precisas de dizer mais…lembras-te de numas férias
grandes o Hilarião ter ido para Lisboa?
-Sim…vagamente…
-Pois a tua paixão, foi circuncidado, tinha alguma
dificuldade em urinar… e sei, porque ele esteve em casa de uma tia minha, que
era enfermeira. Essas bocas de que lhe tinham cortado a “coisa”, vêm dessa
época. A aldeia sempre foi assim…
No dia seguinte, Gioa esperou o amado. Mal o viu, puxou-o
para sua casa, disse-lhe que o amava, apertou-o contra si de um modo suave e,
depois de se sentir correspondida, disse-lhe:
-Se tivesse tido a
coragem de ter feito isto há uns anos, tínhamos poupado tanto tempo, meu amor!
-Ainda vamos a tempo linda Gioa… o nosso amor decidiu-se no
Ano Novo mas não é um amor de Ano Novo!
Jorge C. Chora
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