sexta-feira, 1 de janeiro de 2016

O AMOR DE GIOA


Gioa amava Hilarião, mas mais esquivo do que ele não havia. Conheciam-se desde a primária, moravam na mesma aldeia, ele no número três e ela, no cinco da mesma rua.

Gioa nunca se declarara porque corriam rumores sobre Hilarião, que o davam como inapto para a reprodução. Isso e o facto de ele ser excessivamente tímido,impediam  Gioa  de deslindar o mistério.
Farta da situação, resolveu tomar a iniciativa. O barbeiro da aldeia era amigo de ambos e fora também colega de escola. Um dia apanhou-o a jeito:

-Desculpa-me António mas, quero falar contigo sobre o Hilarião.

-A tua paixão de sempre…o que queres saber?

-Bom…tu  conheces-me bem e é escusado negar…há por aí uns boatos sobre a virilidade do Hilarião…

-Não precisas de dizer mais…lembras-te de numas férias grandes o Hilarião ter ido para Lisboa?

-Sim…vagamente…

-Pois a tua paixão, foi circuncidado, tinha alguma dificuldade em urinar… e sei, porque ele esteve em casa de uma tia minha, que era enfermeira. Essas bocas de que lhe tinham cortado a “coisa”, vêm dessa época. A aldeia sempre foi assim…

No dia seguinte, Gioa esperou o amado. Mal o viu, puxou-o para sua casa, disse-lhe que o amava, apertou-o contra si de um modo suave e, depois de se sentir correspondida, disse-lhe:

 -Se tivesse tido a coragem de ter feito isto há uns anos, tínhamos poupado tanto tempo, meu amor!

-Ainda vamos a tempo linda Gioa… o nosso amor decidiu-se no Ano Novo mas não é um amor de Ano Novo!

Jorge C. Chora



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