domingo, 17 de janeiro de 2016

VIAJAR POR UMA"QUINHENTA" NA ANTIGA LM


Apanhar o”machimbombo” por uma”quinhenta” era privilégio dos estudantes em LM. No fim da década de sessenta era assim. Primeiro tinha de se ter a declaração da secretaria do liceu, com carimbo e assinatura da reitora(or), confirmando a condição de estudante e só depois se podia tratar, na empresa de transportes, do cartão que se tinha de apresentar nos autocarros. O mesmo em relação ao cartão de estudante que dava descontos nos cinemas.

Ir à Costa do Sol por uma “quinhenta”, principalmente durante a semana, era um prazer como havia poucos. Apresentava-se o cartão, pagava-se a “quinhenta” estipulada, independentemente da viagem ser curta ou longa e saíamos, pelo menos eu, na praia não muito longe do lugar onde seria construído o mini-golfe ou, muitas vezes, na praia do Dragão (se a memória não me falha).

Quando havia furos, não eram muitos, aí ia eu dar um mergulho às praias da Costa do Sol. Um belo dia, resolvi” gazetar”. Um finalista também tinha alguns direitos, pensava eu.  À hora combinada, eu e a namorada, já com as respectivas “quinhentas” preparadas, apanhámos o machimbombo e saímos na nossa praia preferida.

Após muitos mergulhos e correrias, deparámo-nos, em pleno areal, com o professor de uma das aulas a que eu tinha faltado. Depois de o ter cumprimentado, sem saber o que dizer, arrisquei uma desculpa:

-Ó senhor doutor, eu estive no liceu mas como não veio, resolvi vir à praia…

O professor ainda era jovem, estava bem acompanhado e sorriu-me, enquanto me respondia:

-Se tu estás aqui há horas e a minha aula foi há meia-hora, como é que fizeste isso?
Percebi de imediato que ele também lá estava quase há tanto tempo como eu. Tínhamos tido o azar de ir para a mesma praia!

Nunca disse nada a ninguém mas de uma coisa fiquei certo: a minha namorada era bem mais linda do que a dele, mas nunca lhe retirei o mérito de ter o bom gosto de escolher a minha praia e, vá lá, de ter uma namorada bonitinha.

P.S. Uma "quinhenta" eram cinquenta centavos.

Jorge C. Chora



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