quarta-feira, 13 de abril de 2016

O FIM ABRUPTO DOS AMORES DE SANCHA E CRISPIM

                                                  
 Crispim e Sancha são um casal de periquitos que vive num grande eucalipto que pertence a uma escola primária. As penas que ele tinha formavam um grande colar preto no pescoço que, com a idade, se tornaram rosa-alaranjado na nuca. Ela, um pouco mais pequena do que ele, com o tempo ficou com a cabeça toda verde. Foi nesta árvore que viveram os pais de Sancha e Crispim ,tal como os pais dos seus pais. Em boa verdade, também ali nasceram os filhos e os seus netos. O grande eucalipto, era a casa de gerações de periquitos da mesma família.

Todas as manhãs dão os bons-dias com um enorme chilrear. A professora Bela sorri e devolve o cumprimento:

-Muito bom dia para todos vós.

Os mais novos saem cedo do lar e dirigem-se aos lagos e regatos das redondezas onde se vão banhar, alinhar as respectivas penas, alindarem-se e verem-se reflectidos nos espelhos de água.

Passam a manhã comendo sementes, sobrevoando os campos e debicando frutos. Regressam ao eucalipto onde a mãe Sancha os espera e os acolhe.

Um dia, mal a campainha tocou, a algazarra tomou conta do pátio da escola. No fim do intervalo o chão ficou cheio de migalhas de pão que atraíram a família de Sancha e Crispim.

Márcio, aluno do 4º ano, trouxe às escondidas, uma fisga para a escola. Virou-se e lançou uma pedra para o meio do bando. Atingiu Sancha num olho.Tornou a atirar e feriu um dos periquitos mais pequenos numa pata.

Sancha levantou-se, ensanguentada e cheia de dores, saltitou a muito custo até ao pequenote ferido e colocou-lhe uma asa por cima. Sancha não resistiu ao ferimento e tombou no chão, no momento em que a professora Bela se dirigia para a aula.

Bela apanhou-a e viu que Sancha, no lugar do olho esquerdo tinha um buraco que sangrava. Bela deixou tombar uma lágrima. Márcio, que se voltara e ainda estava a guardar a fisga, regressa e acode-a na sua aflição.

Bela olha para o Márcio com imensa tristeza, mostra-lhe Sancha e diz-lhe:

-Estes passarinhos não se comem…

No chão, saltitando numa só pata, aproximou-se o passarinho da perna partida, piando aflito.
Márcio pegou nele e perguntou à professora por quem ele tinha uma grande admiração:

-Posso cuidar dele?

Bela acariciou-lhe os cabelos revoltos, beijou-o na face e acenou que sim com a cabeça.

A partir desse dia o menino trouxe sempre um pão que esfarelava e deixava em cima do muro, ao pé do eucalipto. Márcio não se apercebeu da morte de Crispim, dias depois da morte por apedrejamento da sua Sancha.

Quantos dos periquitos-rabijuncos que vemos na região de Lisboa serão da família de Sancha e Crispim?

Jorge C. Chora



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