sexta-feira, 15 de abril de 2016

UMA BENÇÃO DIVINA OU O PAGÃO DESAVERGONHADO


Serapião tremia de frio e de fome. Entrou na igreja protegendo-se da chuva e da temperatura rigorosa que se fazia sentir. Jamais orara mas, depois de despedido e escorraçado, aprendeu o Pai Nosso e rezava-o com fervor.

Nesse dia, a oração foi dita com uma enorme fé, acompanhada por um pedido simples: obter uma refeição decente, como já há muito não comia.

Fora do templo, Barnabé atou um porco ao poste ali existente e entrou numa loja de animais para comprar rações. Cobrara uma dívida insignificante, confiscando o bácoro e agora ia para a feira vendê-lo pelo quíntuplo do dinheiro que o desgraçado lhe devia.

Serapião saiu mais leve e fortalecido da sua devoção. Olhou em frente e viu o porco à sua frente.

-Obrigado Senhor…sabia que atenderias o meu pedido! – e, acto contínuo correu para a sua dádiva, colocou-o debaixo do braço e repetiu a frase que aprendera após a sua recente conversão -  Deo Gratias … Deo Gratias!

Quando o confiscador do animal saiu da loja e não viu o porquinho, desatou aos berros e a correr pela rua fora. Acabou por alcançar Serapião que lhe disse, convicto e ofendido:

-Está enganado meu amigo. Este animal não é, nunca foi e jamais será seu. Foi uma dádiva divina. Se quer um para si, reze. Se tiver fé, muita fé, pode ser que Ele lhe dê um – E deu-lhe um safanão que o atirou de pantanas, para uma vala cheia de dejectos, enquanto concluía: estes pagãos amigos do alheio estão cada vez mais atrevidos!


Jorge C. Chora

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