Serapião tremia de frio e de fome. Entrou na igreja
protegendo-se da chuva e da temperatura rigorosa que se fazia sentir. Jamais
orara mas, depois de despedido e escorraçado, aprendeu o Pai Nosso e rezava-o com
fervor.
Nesse dia, a oração foi dita com uma enorme fé, acompanhada
por um pedido simples: obter uma refeição decente, como já há muito não comia.
Fora do templo, Barnabé atou um porco ao poste ali existente
e entrou numa loja de animais para comprar rações. Cobrara uma dívida
insignificante, confiscando o bácoro e agora ia para a feira vendê-lo pelo
quíntuplo do dinheiro que o desgraçado lhe devia.
Serapião saiu mais leve e fortalecido da sua devoção. Olhou
em frente e viu o porco à sua frente.
-Obrigado Senhor…sabia que atenderias o meu pedido! – e,
acto contínuo correu para a sua dádiva, colocou-o debaixo do braço e repetiu a
frase que aprendera após a sua recente conversão - Deo Gratias … Deo Gratias!
Quando o confiscador do animal saiu da loja e não viu o porquinho,
desatou aos berros e a correr pela rua fora. Acabou por alcançar Serapião que
lhe disse, convicto e ofendido:
-Está enganado meu amigo. Este animal não é, nunca foi e
jamais será seu. Foi uma dádiva divina. Se quer um para si, reze. Se tiver fé,
muita fé, pode ser que Ele lhe dê um – E deu-lhe um safanão que o atirou de
pantanas, para uma vala cheia de dejectos, enquanto concluía: estes pagãos
amigos do alheio estão cada vez mais atrevidos!
Jorge C. Chora
Sem comentários:
Enviar um comentário