No canto estava, no canto ficava. Ocupava um dos cantos da
sala, o da entrada à esquerda. Era raro de lá sair. Era conhecido como o menino
do canto, o que não falava e do qual todos se queixavam:
-Ele bateu-me…
-Eu tenho medo dele…
E o menino que lá vivia, com o nariz torto e o lábio fendido,
encolhia-se e nada dizia.
Provocavam-no os pequenos colegas:
-Ele não sabe nada! Nem sequer fala!
Um dia contrataram a Rosa, uma auxiliar com uma deficiência
numa perna, a quem os outros meninos chamavam bruxa, mas que por dentro era tão
doce como o mel.
E o menino do canto, passados uns dias, chamou-a para ao pé
de si:
-Senta-te aqui ao pé de mim …
E Rosa abriu os olhos, surpreendida:
-Mas tu falas meu menino…
- Sim Rosa… mas eles querem acreditar que não…
Enquanto Rosa, incrédula, o ouvia, o menino desenhou, num
traço trémulo, um enorme coração e ofereceu-lho:
-Para ti Rosa.
E no rádio de pilhas que Rosa tinha no bolso da bata,
ouvia-se baixinho “Oh love, love me do,
you know I love you…”
Jorge C. Chora
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