Todos os dias, logo pela manhã, encontro-me com os
meus companheiros de infortúnio. A mim dói-me a perna, a um chileno o braço e à
D. Clara o ombro. Coisas da idade e azares à mistura.
Ao levantar-se, a D. Clara usou uma expressão que
também eu utilizo para incentivar o esforço elevatório: upa. O seu “upa” foi no
entanto diferente: upa Umbelina! foi o que a senhora disse.
Sabendo eu que a senhora se chamava Clara,
perguntei-lhe a razão de ser mencionado nome Umbelina, colocando a hipótese de
ela também ter esse nome.
Explicou-me a minha companheira de fisioterapia, que
aliás conheço há muito tempo e é dotada de uma boa disposição a toda a prova, que
Umbelina era uma amiga transmontana de sua mãe, de imenso peso e que sempre que
se levantava dizia a expressão “upa Umbelina”.
D. Clara, que nasceu e viveu em Angola, acrescentou:
no tempo da guerra colonial, nos arredores de Luanda, não se podia dizer upa.
Era perigoso e podiam-se ter problemas com a pide. Upa era a designação do
movimento que iniciou as hostilidades bélicas.
- Então a D. Umbelina viu-se aflita lá por Angola….
-Não…essa senhora nunca esteve em Angola…era conhecida
da minha mãe…
-Antes assim - concluí eu - que já me via com
problemas, por estar sempre a dizer a malfadada expressão, pese embora só lá tenha
estado de passagem.
Jorge C. Chora
22/6/18
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