domingo, 10 de junho de 2018

O TREVO DE QUATRO FOLHAS


Ninguém saía de sua casa sem ser presenteado, pelo menos com um trevo de quatro folhas. Eles enchiam parte de um canteiro, mas não tinham nascido ao acaso: tinham sido seleccionados, semeados, depois transplantados e cuidados.

A sorte ou a sua falta, não dependiam do trevo de quatro folhas, racionalmente falando, mas os visitantes adoravam recebê-lo. Veio o tempo de seca e os trevos murcharam. Ao chá príncipe aconteceu o mesmo. Ambos desapareceram.

Um belo dia, os senhores que ofertavam o trevo e serviam o chá, receberam uns amigos que ao saberem do desaparecimento daqueles produtos, se mostraram tristíssimos com o facto:

-  Já estávamos a antecipar o sabor… e a prendinha.

-Estejam descansados. A lúcia-lima não foi afectada.

Divinal foi o adjectivo atribuído pelos visitantes ao aromático e delicioso chá. À saída, olharam de relance para o canteiro onde outrora tinham existido os trevos de quatro folhas.
Os donos da casa sorriram, pararam junto ao loureiro, encheram um pequeno saco com as suas folhas e ofertaram-no aos visitantes:

-Para temperarem os vossos bifinhos…

Já a sós, os anfitriões, após um longo beijo, sussurraram:

- Para temperarmos as nossas vidas…

-Agora tempero eu a tua… -murmurou-lhe a companheira.

Jorge C. Chora
10/6/2018

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