Ninguém saía de sua casa sem ser presenteado, pelo menos com
um trevo de quatro folhas. Eles enchiam parte de um canteiro, mas não tinham
nascido ao acaso: tinham sido seleccionados, semeados, depois transplantados e
cuidados.
A sorte ou a sua falta, não dependiam do trevo de quatro
folhas, racionalmente falando, mas os visitantes adoravam recebê-lo. Veio o
tempo de seca e os trevos murcharam. Ao chá príncipe aconteceu o mesmo. Ambos
desapareceram.
Um belo dia, os senhores que ofertavam o trevo e serviam o
chá, receberam uns amigos que ao saberem do desaparecimento daqueles produtos,
se mostraram tristíssimos com o facto:
- Já estávamos a
antecipar o sabor… e a prendinha.
-Estejam descansados. A lúcia-lima não foi afectada.
Divinal foi o adjectivo atribuído pelos visitantes ao
aromático e delicioso chá. À saída, olharam de relance para o canteiro onde
outrora tinham existido os trevos de quatro folhas.
Os donos da casa sorriram, pararam junto ao loureiro,
encheram um pequeno saco com as suas folhas e ofertaram-no aos visitantes:
-Para temperarem os vossos bifinhos…
Já a sós, os anfitriões, após um longo beijo, sussurraram:
- Para temperarmos as nossas vidas…
-Agora tempero eu a tua… -murmurou-lhe a companheira.
Jorge C. Chora
10/6/2018
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