Entrei há dias no carro, após uma visita a um
familiar, e estranhei o perfume que se fazia sentir no interior da viatura.
Olhei de soslaio para a minha mulher, tentando
adivinhar que aroma tinha ela escolhido.
Revi mentalmente os perfumes que ela costumava usar.
Embora eu os conhecesse todos ou quase todos, não consegui identificá-lo. De
uma coisa estava eu convicto: era uma
essência floral, talvez à base de rosas, mas havia algo de muito fresco, diria
mesmo, selvagem.
Empenhei-me em descobrir o que era, sem lhe perguntar
nada. Às tantas, ela deu pela observação disfarçada a que estava a ser sujeita.
-Queres perguntar-me alguma coisa?
-Talvez sim ou talvez não… queria saber que perfume
estás a usar…
Ela disse-me o que usava e eu fiquei ainda mais
intrigado, pois o que me cheirava, nada tinha a ver com o aroma que ela
anunciava. Acabei por explicar-lhe, a causa da minha estranheza.
Sorriu de modo enigmático e disse-me:
-Quando chegares a casa, é possível que descubras por
ti próprio.
Já em casa, sem nada lhe perguntar, mas com a
curiosidade à flor da pele, após tirar o que havia no banco traseiro, encontrei
uma só haste de flor que emanava um forte cheiro a rosas, mesclado com outro
aroma qualquer..
Estava descoberto o segredo: um ramo de malva- rosa,
cujo aroma nos embebia numa fragrância de rosas agridoces, de notas um tanto
selvagens, que nos penetrava a alma e envolvia o espírito e se espalhara no
interior do automóvel. Tinha sido uma oferta da minha cunhada, que por acaso eu
não vira.
Jorge C. Chora
16/6/18
Sem comentários:
Enviar um comentário