sábado, 16 de junho de 2018

UM PERFUME DESCONHECIDO




Entrei há dias no carro, após uma visita a um familiar, e estranhei o perfume que se fazia sentir no interior da viatura.

Olhei de soslaio para a minha mulher, tentando adivinhar que aroma tinha ela escolhido.
Revi mentalmente os perfumes que ela costumava usar. Embora eu os conhecesse todos ou quase todos, não consegui identificá-lo. De uma coisa estava eu convicto:  era uma essência floral, talvez à base de rosas, mas havia algo de muito fresco, diria mesmo, selvagem.

Empenhei-me em descobrir o que era, sem lhe perguntar nada. Às tantas, ela deu pela observação disfarçada a que estava a ser sujeita.

-Queres perguntar-me alguma coisa?

-Talvez sim ou talvez não… queria saber que perfume estás a usar…

Ela disse-me o que usava e eu fiquei ainda mais intrigado, pois o que me cheirava, nada tinha a ver com o aroma que ela anunciava. Acabei por explicar-lhe, a causa da minha estranheza.
Sorriu de modo enigmático e disse-me:

-Quando chegares a casa, é possível que descubras por ti próprio.

Já em casa, sem nada lhe perguntar, mas com a curiosidade à flor da pele, após tirar o que havia no banco traseiro, encontrei uma só haste de flor que emanava um forte cheiro a rosas, mesclado com outro aroma qualquer..

Estava descoberto o segredo: um ramo de malva- rosa, cujo aroma nos embebia numa fragrância de rosas agridoces, de notas um tanto selvagens, que nos penetrava a alma e envolvia o espírito e se espalhara no interior do automóvel. Tinha sido uma oferta da minha cunhada, que por acaso eu não vira.

Jorge C. Chora
16/6/18




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