No fundo do estendal da casa de seu pai, caiam as peças de
vestuário de todos os vizinhos, incluindo as da vizinha do 6º.
Todos os dias ou quase todos, vinha alguém buscar as peças
de roupa caídas.: calças, camisas, roupa interior…
Uma terça-feira, o jovem ouviu no átrio de saída do seu
prédio, os condóminos a recriminarem a conduta da vizinha do 6º andar:
-É tão porcalhona que se esqueceu das cuecas sujas no
elevador…
Bento, assim se chamava o jovem adolescente, revoltou-se ao
ouvir acusar deste modo a sua simpática, bela e extravagante amiga do 6º.
-As cuecas não são dela… e disse só para si - ela nem sequer
as usa…
-Como assim? - surpreenderam-se os vizinhos-Como é que
sabes?
E Bento explicou que
ela deixava cair quase tudo no chão do seu estendal e nunca deixara cair
uma peça de vestuário que se parecesse com aquela de que
falavam.
Ele bem sabia de quem elas eram, de uma vizinha insuspeita, mas
nada disse. A vizinha do 6º, sempre que atravessava o átrio de entrada do
prédio, tinha de se baixar porque alguém perdia, de modo sistemático, uma
moedinha.
Bento, todas as segundas-feiras, trocava 25 cêntimos que lhe
sobravam do lanche, por moedas de cinco cêntimos, com excepção dos sábados e
domingos em que saia acompanhado dos pais.
Às segundas, sem falta, ao cair da noite, uma pequena caixa
de papel aguardava-o à sua porta: continha todos os cêntimos que deixava no
átrio da entrada, para ver a sua amiga do 6º apanhá-los.
Jorge C. Chora
23/9/2018
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