sábado, 1 de setembro de 2018

A LÁBIA DE TI PATRÍCIO


                                              
Na aldeia de Santa Vitória, em Beja, ti Patrício ferrou um calote à ti Mariana, dona de uma taberna ali existente.

Um dia, pelo carnaval, o caloteiro armou-se em veterinário e foi perguntar à taberneira se por acaso não teria um cão que necessitasse de tratamento.

Mariana não esteve com meias medidas:

-Por acaso Caetano Patrício, tenho cá um “cão” teu, tão velho que até barbas brancas tem…

-Ó ti Mariana, esse pode matá-lo que não tem cura… -respondeu-lhe ti Patrício.

E o sr. António Camacho, do alto dos seus bem dispostos 75 anos, que foi quem me contou esta história, passada na sua terra, quando tinha doze ou treze anos, remata:

-E ti Mariana não teve outro remédio, senão arcar com o velho “cão” do sabido Caetano Patrício.
Embalado com as vivências de Caetano Patrício, conta-me outra história., passada com a mesma personagem e o seu amigo Domingos, também residentes na aldeia.

Um dia, roídos de fome, com o estômago a roncar de apetite, narinas dilatadas em busca de aromas confortáveis, sentiu o cheiro de pão a cozer.

Ao cheiro do que era bom, foi ter com o amigo e disse-lhe: 

- Companheiro Domingos, a partir de agora sou mudo. Vou indicar-te, por gestos, a origem do belo cheiro a pão a cozer. Vou dizer-te o que quero: um bocado de pão do que está a cozer.

Rendida à fome de Patrício e de Domingos, a dona do forno, condoída com a mudez de Patrício perguntou:

-Desde quando ele é mudo?

Cedendo à inocência da dona, diz Patrício, num assomo de honestidade e compreensão:
-Desde o poço até aqui minha senhora!

Comeram o pão que lhes apeteceu, com a bênção da compreensiva senhora, vencida com a lábia e simpatia de Caetano Patrício e do companheiro Domingos.


Jorge C. Chora
    1/9/2018





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