Na aldeia de Santa Vitória, em Beja, ti Patrício ferrou um
calote à ti Mariana, dona de uma taberna ali existente.
Um dia, pelo carnaval, o caloteiro armou-se em veterinário e
foi perguntar à taberneira se por acaso não teria um cão que necessitasse de
tratamento.
Mariana não esteve com meias medidas:
-Por acaso Caetano Patrício, tenho cá um “cão” teu, tão
velho que até barbas brancas tem…
-Ó ti Mariana, esse pode matá-lo que não tem cura… -respondeu-lhe
ti Patrício.
E o sr. António Camacho, do alto dos seus bem dispostos 75
anos, que foi quem me contou esta história, passada na sua terra, quando tinha
doze ou treze anos, remata:
-E ti Mariana não teve outro remédio, senão arcar com o
velho “cão” do sabido Caetano Patrício.
Embalado com as vivências de Caetano Patrício, conta-me
outra história., passada com a mesma personagem e o seu amigo Domingos, também
residentes na aldeia.
Um dia, roídos de fome, com o estômago a roncar de apetite,
narinas dilatadas em busca de aromas confortáveis, sentiu o cheiro de pão a
cozer.
Ao cheiro do que era bom, foi ter com o amigo e disse-lhe:
- Companheiro Domingos, a partir de agora sou mudo. Vou
indicar-te, por gestos, a origem do belo cheiro a pão a cozer. Vou dizer-te o
que quero: um bocado de pão do que está a cozer.
Rendida à fome de Patrício e de Domingos, a dona do forno, condoída
com a mudez de Patrício perguntou:
-Desde quando ele é mudo?
Cedendo à inocência da dona, diz Patrício, num assomo de
honestidade e compreensão:
-Desde o poço até aqui minha senhora!
Comeram o pão que lhes apeteceu, com a bênção da
compreensiva senhora, vencida com a lábia e simpatia de Caetano Patrício e do companheiro
Domingos.
Jorge C. Chora
1/9/2018
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