quarta-feira, 20 de novembro de 2019

D. PRECIOSA E A SUA ETERNA DOR DE DENTES



De boina e bengala, Salvador Ferreira, vai debitando histórias e quadras políticas d’outrora, encostado ao balcão do café de Artur Vaz, na Amadora.
Nasceu numa aldeia, gosta e anseia há muito tornar a viver numa. Recorda figuras de antanho, quando ainda era menino e veio-lhe à memória a veneranda figura de D. Preciosa. Sempre de preto vestida, embrulhada em lenços e xailes, tinha a particularidade de segurar, em permanência, uma ponta do mesmo em frente à boca.
Condoía-se o jovem Salvador, da alegada e eterna dor de dentes apregoada por D. Preciosa.
Cresceu e um dia, seu pai, desvendou o verdadeiro segredo da ponta do xaile:

-Qual dor de dentes! Ela é devota do tinto! Aquilo é para não tresandar a vinho, para ocultar o bafo…

E a desculpa piedosa e conveniente da dor de dentes esfumou-se, não tendo Salvador notícia sobre a estratégias adoptadas pela fã do pipo, para continuar a usufruir do néctar sem alegar a sua eterna dor…

Coisas de terras pequenas…tudo se sabe, mesmo aquilo que não se quer que se saiba! Nem uma dor de dentes se podia alegar em paz e sossego!

Jorge C. Chora
19/11/19

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