sábado, 2 de novembro de 2019

O MARINHEIRO HIRSUTO



 Um velho marinheiro tinha uma barba tão grande que lhe chegava ao peito. Ela estava tão branca que se confundia com um floco de neve.
Estava sempre rodeado de alguns filhos, netos, bisnetos e outros que se diziam pertencentes à família, embora ele achasse que não os conhecia de nenhures. Tratava-os, no entanto, todos bem
Adorava contar histórias, umas verdadeiras e outras nem tanto. Numa manhã nublada, bem rodeado como de costume, um ébrio malcheiroso, cambaleando, aproximou-se do grupo que o rodeava, tendo estes tentado afastá-lo.
O marinheiro pediu-lhes que o deixassem aproximar-se. Mal o intruso deles se acercou, perguntou, de um modo agressivo e insolente:

-Ó pá, porque usas essa barba até ao peito? Ela serve para quê?

De modo paciente, o velho marinheiro retorquiu-lhe:

-Amigo, esta barba que aqui vês, já me salvou a vida e aos meus companheiros também, por diversas vezes. Em dias de temporal, os cabos de atracação do navio ao cais perdiam-se, e eu tinha de lançar as minhas barbas para os substituir…

E o alcoolizado, oscilando, replicou, mastigando as palavras:

-Seu aldrabão das dúzias, como é que as tuas barbas, tão pequenas. substituíam os cabos do cais!?

E a criançada que cercava o velho marinheiro, gritou, abespinhada e em uníssono:

-Não vês que as suas barbas, quando era novo, eram bem maiores e chegavam ao cais com a maior facilidade?

Jorge C. Chora
2/11/19

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