Estava sempre rodeado de alguns filhos, netos, bisnetos e
outros que se diziam pertencentes à família, embora ele achasse que não os
conhecia de nenhures. Tratava-os, no entanto, todos bem
Adorava contar histórias, umas verdadeiras e outras nem
tanto. Numa manhã nublada, bem rodeado como de costume, um ébrio malcheiroso, cambaleando,
aproximou-se do grupo que o rodeava, tendo estes tentado afastá-lo.
O marinheiro pediu-lhes que o deixassem aproximar-se. Mal o
intruso deles se acercou, perguntou, de um modo agressivo e insolente:
-Ó pá, porque usas essa barba até ao peito? Ela serve para quê?
De modo paciente, o velho marinheiro retorquiu-lhe:
-Amigo, esta barba que aqui vês, já me salvou a vida e aos
meus companheiros também, por diversas vezes. Em dias de temporal, os cabos de
atracação do navio ao cais perdiam-se, e eu tinha de lançar as minhas barbas
para os substituir…
E o alcoolizado, oscilando, replicou, mastigando as palavras:
-Seu aldrabão das dúzias, como é que as tuas barbas, tão
pequenas. substituíam os cabos do cais!?
E a criançada que cercava o velho marinheiro, gritou, abespinhada
e em uníssono:
-Não vês que as suas barbas, quando era novo, eram bem
maiores e chegavam ao cais com a maior facilidade?
Jorge C. Chora
2/11/19
Sem comentários:
Enviar um comentário