Por entre mesas e cadeiras, o homem ziguezagueava com uma
perícia inigualável ao desviar-se dos obstáculos. O motivo era só um: pedinchar
tabaco ou uma moedinha.
Não falhava um dia que fosse e pedia sempre do mesmo modo:
- Dá-me um cigarrinho?
- Mas eu já te dei ontem! E para além disso, raramente te
vejo a fumar! -respondiam alguns.
A resposta estava engatilhada:
-Amanhã juro que não lhe peço… não me vê a fumar porque eu poupo para dar
para o dia inteiro.
Caso a lengalenga não pegasse, saltava outro pedido:
-Então vá…uma moedinha para tomar um café…
Feita a colheita, desaparecia e ninguém sabia o rumo que
tomava. Um belo dia, uma vítima diária dos seus peditórios, encontrou-o numa
cidade próxima, numa rua esconsa e de má fama. Estava sentado num caixote,
tendo a seu lado, no chão, cigarros expostos em cima de um pano. Encostado à
parede, havia um cartaz de cartão canelado com o seguinte aviso:
CIGARROS AVULSO. 0,40 A UNIDADE
A um cliente que pretendia comprar-lhe um cigarro por 10
cêntimos, a resposta foi imediata:
- Queres dado e arregaçado? Isto não cai do céu!
E quando perguntaram, a quem contou a cena, o que fazia naquela
rua mal-afamada, apressou-se a justificar:
-Fui dar-lhe uma moedinha, pois hoje ele não foi ao café!
Jorge C. Chora
12/11/19
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