terça-feira, 12 de novembro de 2019

DADO E ARREGAÇADO



Por entre mesas e cadeiras, o homem ziguezagueava com uma perícia inigualável ao desviar-se dos obstáculos. O motivo era só um: pedinchar tabaco ou uma moedinha.
Não falhava um dia que fosse e pedia sempre do mesmo modo:

- Dá-me um cigarrinho?

- Mas eu já te dei ontem! E para além disso, raramente te vejo a fumar! -respondiam alguns.
A resposta estava engatilhada:

-Amanhã juro que não lhe peço…  não me vê a fumar porque eu poupo para dar para o dia inteiro.

Caso a lengalenga não pegasse, saltava outro pedido:

-Então vá…uma moedinha para tomar um café…

Feita a colheita, desaparecia e ninguém sabia o rumo que tomava. Um belo dia, uma vítima diária dos seus peditórios, encontrou-o numa cidade próxima, numa rua esconsa e de má fama. Estava sentado num caixote, tendo a seu lado, no chão, cigarros expostos em cima de um pano. Encostado à parede, havia um cartaz de cartão canelado com o seguinte aviso:

                                        CIGARROS AVULSO. 0,40 A UNIDADE

A um cliente que pretendia comprar-lhe um cigarro por 10 cêntimos, a resposta foi imediata:

- Queres dado e arregaçado? Isto não cai do céu!

E quando perguntaram, a quem contou a cena, o que fazia naquela rua mal-afamada, apressou-se a justificar:

-Fui dar-lhe uma moedinha, pois hoje ele não foi ao café!

Jorge C. Chora
12/11/19

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