A procissão progredia de modo lento. Os crentes, à torreira
do sol, arrastavam-se debitando a custo, os Padre Nossos e as Avé Marias.
A pequena Luísa, na companhia do pai, não perdia pitada da
cerimónia. Seguia os anjos com os olhos fixos nas suas asas e auréolas, nos
fatos brancos e azuis a roçarem o chão.
Os anjinhos pararam mesmo à sua frente. Luísa deleitou-se
com a visão. De súbito tapou o nariz. Cheirou-lhe mal. Puxou o braço ao pai e
perguntou-lhe:
-Ó pai, os anjos também dão puns?
-Claro que sim Luísa… só os que estão no céu é que não. Cá
na terra todos fazem isso! Há quem diga que não, mas não é verdade! Também há
quem culpe os outros daquilo que fazem…
E palavras não eram ditas, quando o anjinho donde provinha o
cheiro, tapou o nariz e olhou de soslaio para a Luísa.
A pequena não gostou e em voz alta disse-lhe:
-Os anjos também dão puns! Não precisas de disfarçar e
fingires que eu é que dei! Assim não vais para o céu!
E o anjinho ao seu lado, deu uma gargalhada e disparou:
-Ó Eduardo, desta vez foste apanhado!
Jorge C. Chora
10/6/2020
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