domingo, 14 de junho de 2020

A RODA DA BICICLETA QUE NÃO SUMIU


  Passava todos os dias na rua com uma roda de bicicleta na mão. A primeira vez que o viram, julgaram tratar-se de um ciclista, cuja bicicleta se tinha avariado. Com a repetição do episódio, inclinaram-se os moradores para a hipótese dele trabalhar no ramo dos velocípedes.
Um dia perguntaram-lhe se tinha alguma loja ou oficina de bicicletas.

-Tomara eu!

-Então qual a razão de …

Não foi necessário concluir a pergunta, pois o homem completou-a:

-De andar a passear com uma roda de bicicleta?

-Sim…

E o senhor, de modo paciente e educado explicou:

-Um dia o pneu da minha bicicleta furou-se. Desmontei a roda e fui a casa remendá-la. Refiro-me à câmara de ar… claro. Quando voltei, já ela lá não estava…

- Mas anda com a roda?

-Sim, ando. Se conseguir encontrá-la, coloco-lhe a roda e venho nela, porque é minha. Se acaso não for a minha, mas não tiver a roda, passa a ser minha e trago-a na mesma.
Enquanto digeriam a explicação, o homem perguntou-lhes:

-Por acaso viram por aí alguém a circular numa bicicleta sem roda? Algum dos senhores tem em casa alguma assim?

E o senhor continua a passar, todos os dias, com a roda na mão e a perguntar:

-Passou por aqui alguém numa bicicleta sem a roda da frente?

E o dono da tasca, não perde a ocasião de rotular o ex-ciclista:

- É doido varrido! Uma bicicleta, sem a roda, a circular!

Entretanto, sempre que o homem da roda passa, vai à porta e não a perde de vista. Espera, pacientemente, a oportunidade de completar a bicicleta que ele disse ter encontrado abandonada e sem a roda da frente e a levou para a sua aldeia natal.

-É doido varrido! -repete, de olho na roda da bicicleta que levou sumiço e ele diz ter achado.

Jorge C. Chora

14/6/2020



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