Passeava à beira- mar quando teve de fugir a uma onda.
Perdeu as chinelas. Ficou a vê-las serem
arrastados para a água. Esperou um bocado, na esperança de as reaver com as
ondas seguintes.
As suas não vieram, mas chegaram outras. Apanhou-as. Mais
valia um pássaro na mão… Reparou depois, que cada uma tinha uma cor e tamanho
diferente: uma era preta e mais pequena e a outra, branca e maior. Afinal, faz
de conta, estava criada a moda das chinelas bicolor: tinha, nada mais nada
menos do que umas “black and white”.
Observou-as com mais detalhe. A preta já quase não tinha
cor, tão velha e maltratada estava, denotando uso intenso. A branca estava
quase nova. Bom, o facto é que ambas serviam, mas separadas uma da outra, uma
em cada pé, cada uma no seu lugar.
Um mendigo viu-o deixar a beira-mar. Ficou como que
hipnotizado a olhar as chinelas e perguntou:
-Onde as achou?
-Na praia. Foram-me oferecidos por uma onda!
-É capaz de ter sido a mesma que mas tirou! - disse o mendigo.
As chinelas foram oferecidos ao mendigo, entretanto, já acompanhado
de um segundo sem-abrigo.
O primeiro ofereceu a chinela branca e ficou com a preta, pois
tinha o pé mais pequeno do que o outro. Como andavam sempre juntos, adoptaram a
moda do” black and white”: um preto de chinela branca e o branco de chinela
preta.
Agora, fogem ambos de todo o lado, porque são acusados de
subversivos e de não terem tido tempo de roubar, o par das chinelas que lhes
faltavam.
Jorge C. Chora
17/6/2020
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