quinta-feira, 2 de julho de 2020

FILHOS DE QUEM DEUS SABE


   
Quando vejo a minha mulher sorrir enquanto investiga, fico de atalaia. Não descanso enquanto não me conta o que descobriu. Para se livrar de mim e continuar a trabalhar, apressa-se a contar.
Desta vez a história diz respeito a uma forma eufemística de nomear pais incógnitos. Nos registos de baptismo de Beringel, Beja, do séc. XVII e XVIII, localidade onde existiam, por sinal, inúmeros escravos, havia uma forma curiosa de nomear os pais desconhecidos. Esse modo era extensivo aos registos de baptismo dos escravos ou não escravos e consistia em dizer por exemplo, o nome da mãe e em relação ao pai, em vez de se dizer incógnito, diziam: e filho de quem Deus sabe.
O mais curioso é que foi a primeira vez que durante as suas investigações, a minha mulher encontrou este modo específico de designar os progenitores incógnitos.
Em conclusão, quando se aborrecer seriamente com alguém, em substituição do feio palavrão que eventualmente ele ou ela mereçam, diga: filho ou filha de quem Deus sabe…

Jorge C. Chora
2/7/2020

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