Há já muitas luas, tinha o hábito de passar as férias de
verão em Quarteira. Vou fala-vos de um tempo onde as gozei no parque de
campismo, após as ter tido também em casa de uns grandes amigos nossos, quer em
Loulé quer em Quarteira.
O parque rebentava pelas costuras. Eram inúmeros os
estrangeiros que o frequentavam, principalmente jovens adultos. O tempo não era
de falsos pudores. No redondel ao ar livre, muitos casais tomavam banho como
tinham vindo ao mundo e ninguém abria a boca de espanto, embora alguns dos
exemplares fossem de truz. Na praia do campismo a moda de Adão e Eva estava em
voga.
O convívio com os nacionais e estrangeiros estabelecia-se de
um modo instintivo, natural. Pela tardinha, regressados da praia, tomados os
banhos e enquanto se preparava a refeição, partilhava-se uma bebida com os
vizinhos, muitas vezes casais estrangeiros.
À noite conversava-se ao ar livre, até certa hora, sem
incomodar.
Havia também, naquela época, um corneteiro que tocava a
alvorada, todas as manhãs, sem falta. Nunca o conheci. O que é certo é que as
boas-vindas ao nascer de um novo dia eram dadas com vigor e alegria. Ninguém se
queixava daquela forma de acolher o nascer- do -sol ou, levava a mal aquela
forma particular de comemorar o despontar do dia.
No sítio onde montava o nosso atrelado tenda, residia um
inglês, dono de um barco de pesca de alto mar. Partia todos os dias, com
turistas e regressava com enormes peixes azuis que amanhava à machadada. Algumas
vezes eram preparados em cima do capôt do velho e ruidoso Ford 17 M, que
expelia mais fumo do que uma chaminé a carvão e que só pegava de empurrão. O
velho inglês era um ouvinte compulsivo de ópera em altos berros e um apreciador
notável de brandis, nomeadamente do “1920”. Recebíamos a sua visita quase todos
os dias e só partia quando o combustível se esgotava. Não me recordo do seu
nome mas era um patusco que se recusava a viver nas casa que tinha na cidade.
Era ali, no parque que adorava viver, tal como muitos outros que lá estavam, por
gosto e convívio, acordados pelo corneteiro, que eu nunca conheci.
Outros tempos. Era a década de oitenta, fins da de setenta.
Jorge C. Chora
7/7/2020
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