domingo, 5 de julho de 2020

MEMÓRIAS DE HÁ 60 ANOS OU O TEMPO DAS GRANDES FORMIGAS


Já lá vai o tempo de juventude e das idas matinais à” minha” praia, na cidade da Beira, no Macúti -Estoril. Bastava-me saltar o muro da minha casa, atravessar o quintal do vizinho e entrar na praia.

Depois de lautos pequenos almoços obrigatórios, alguns dos quais  verdadeiros suplícios, nomeadamente os que incluíam, após o “porridge”, gigantescas toranjas e copos de sumo, ainda tínhamos o desplante e o vício das coisas doces. Passávamos, eu e o meu irmão, pela despensa e levávamos, cada um, uma lata de leite condensado. Ela era furada em dois sítios e pelos orifícios íamos bebendo o leite.

Hoje, só de me lembrar de tal facto, o enjoo toma conta de mim. Na época, com mais olhos do que barriga, ainda conseguia, com a gula, beber quase um terço do conteúdo daquele autêntico melaço! Acho que nunca consegui chegar à praia com a lata de leite. Num terreno lateral vago, arremessava-a, ainda quase cheia.

Naquele terreno para onde arremessava o leite, abundavam formigas e que grandes elas eram! Pudera! Alimentadas a leite condensado!

Belos tempos esses onde a até as formigas eram alimentadas a leite condensado! e chegávamos à praia enjoados que nem pescadas e isso passava num ápice, com os mergulhos e cabriolices a que nos entregávamos.

As férias grandes eram do tipo “Duracel” e quanto mais duravam, mas queríamos que durassem, à torreira do sol, tostando os miolos, bebendo leite condensado e apurando o ouvido para escutar a sineta do vendedor dos gelados “Esquimó”.

Jorge C. Chora
5/7/2020

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