Eram três os sócios dedicados ao negócio da venda ambulante de jogos. O primeiro conseguia ver, mas mal andava; o segundo andava, mas mal via, e o terceiro andava depressa, mas ouvia mal. Juntos vendiam bilhetes de lotaria como pães quentes.
Num relance, ao longe, o primeiro identificava os interessados e gritava-lhes:
-Vamos já aí…
O segundo, passados uns breves minutos, para não deixar arrefecer a promessa, anunciava:
-Estamos a chegar…
E o terceiro, o ligeiro do grupo, ao chegar mais rápido do que os sócios assenhoreava-se da atenção dos eventuais compradores:
-Aqui estamos… - e tagarelava, dando tempo a que ao amigos chegassem.
E o jogo ia-se vendendo, à mistura com a conversa fiada, anedotas já com barbas e risota assegurada.
O trio tinha a vida assegurada até que um dia, insatisfeitos com os proventos divididos por todos, decidiram desfazer a sociedade e venderem cada um por si.
O que via bem identificava os potenciais clientes mas era coxo, quando lá chegava, já os compradores se tinham ido embora ou se estavam a levantar e nada lhe compravam. O segundo o que mal via, ao abordar os eventuais clientes, perguntavam-lhe muitas vezes:
- Mas quem é que te chamou? Não vês que estamos também a vender o mesmo que tu?
Quanto ao terceiro, coitado, brincavam com ele amiúde:
- Onde vais com tanta pressa? Vai correr para outro lado.
E quando finalmente se reuniam, na esplanada onde costumavam vender, para discutirem a reativação da parceria, arrepiaram-se ao ouvir uma voz que anunciava:
- Vamos já aí...
- Estamos a chegar… -disse uma segunda.
- Aqui estamos - referiu um magricela, junto deles, com uma grande quantidade de bilhetes de lotaria na mão.
E quando o escanzelado se preparava para contar as anedotas, o grupo berrou:
- Fora daqui!
Jorge C. Chora
4/07/2021
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