quinta-feira, 25 de novembro de 2021

O PECADO DE ISIS

Padre António foi chamado ao hospital, a pedido de Isis, uma amiga e paroquiana de longa data.

Isis queria comungar, para surpresa de António.

-Sei que está surpreendido, porque nunca comunguei. E nunca o fiz porque vivi sempre em pecado e nunca o confessei, logo não podia comungar!

António percebeu que a amiga estava a despedir-se da vida. Estava a confessar-se.

-Amei uma mulher, uma amiga, toda a vida. Um pecado que agora confesso e que nunca confessei a quem amei, embora tenha estado toda a vida ao lado dela.

António soube de imediato de quem se tratava: era de Helena, que nem sonhava que era amada por Isis. Ouviu a confissão e absolveu-a:

-Amar não é pecado- disse-lhe António, beijando a mão da amiga.

Ao sair do quarto, encontrou Helena que esperava a sua vez de visitar Isis. Olhou-a nos olhos e disse-lhe:

-Amiga Helena, só te posso pedir que te despeças de Isis, como se fosses a sua namorada…

Helena arrepiou-se, ao perceber, de súbito, o amor que Isis lhe tinha tido sempre. Quanto sofrimento lhe causara ao saltitar de namorado em namorado e ela ao seu lado a ver tudo! As férias de que ela prescindira para estar consigo! Os sacrifícios que ela fizera por si!

Entrou no quarto e olhou a sua amiga. Estava magra, cheia de olheiras, com os braços todos espicaçados e com um sorriso de felicidade ao vê-la entrar.

Beijou-lhe as mãos e os braços cheios de nódoas.

Isis morreu nesse mesmo dia e ninguém conseguiu entender o sorriso que tinha.

Hoje, Helena tem uma fotografia de Isis na sua casa, num lugar de destaque, porque sabe que ela, esteja onde estiver, está a velar por si, o seu amor de sempre.

 

Jorge C. Chora

25/11/2021

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