Padre António foi chamado ao hospital, a pedido de Isis, uma amiga e paroquiana de longa data.
Isis queria
comungar, para surpresa de António.
-Sei que
está surpreendido, porque nunca comunguei. E nunca o fiz porque vivi sempre em pecado
e nunca o confessei, logo não podia comungar!
António
percebeu que a amiga estava a despedir-se da vida. Estava a confessar-se.
-Amei uma
mulher, uma amiga, toda a vida. Um pecado que agora confesso e que nunca
confessei a quem amei, embora tenha estado toda a vida ao lado dela.
António
soube de imediato de quem se tratava: era de Helena, que nem sonhava que era
amada por Isis. Ouviu a confissão e absolveu-a:
-Amar não é
pecado- disse-lhe António, beijando a mão da amiga.
Ao sair do
quarto, encontrou Helena que esperava a sua vez de visitar Isis. Olhou-a nos
olhos e disse-lhe:
-Amiga
Helena, só te posso pedir que te despeças de Isis, como se fosses a sua
namorada…
Helena
arrepiou-se, ao perceber, de súbito, o amor que Isis lhe tinha tido sempre.
Quanto sofrimento lhe causara ao saltitar de namorado em namorado e ela ao seu
lado a ver tudo! As férias de que ela prescindira para estar consigo! Os
sacrifícios que ela fizera por si!
Entrou no
quarto e olhou a sua amiga. Estava magra, cheia de olheiras, com os braços
todos espicaçados e com um sorriso de felicidade ao vê-la entrar.
Beijou-lhe
as mãos e os braços cheios de nódoas.
Isis morreu
nesse mesmo dia e ninguém conseguiu entender o sorriso que tinha.
Hoje, Helena
tem uma fotografia de Isis na sua casa, num lugar de destaque, porque sabe que ela,
esteja onde estiver, está a velar por si, o seu amor de sempre.
Jorge C.
Chora
25/11/2021
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