quinta-feira, 18 de novembro de 2021

AMÉLIA E HÉLIO

Amélia mal entrou ao serviço foi recebida com um sorriso aberto pelo seu amigo e colega Hélio:

- A tarde correu-te bem…

- Por que dizes isso Hélio?

-Olha, porque os teus olhos não mentem. Tens as pupilas dilatadas…

- De facto tens razão…- e nada mais adiantou

Nem precisava de contar mais nada. Ele sabia que a amiga tinha um novo namorado porque estava a usar o perfume que ela gostava só para aquelas ocasiões. O olfato de Hélio raramente o enganava.

Amélia e Hélio eram amigos desde os bancos da pré-primária. Sabiam tudo um do outro. Partilhavam as alegrias e as tristezas também.

Hélio não gostava de que a sua amiga fosse apanhada em falso pelos diretores e engendrava as mais mirabolantes desculpas. Amélia, por sua vez, gostava de manter as suas conquistas em segredo e em relação a isso nada contava.

Dois dias depois, Amélia repetiu a ausência e Hélio reparou que ela tinha tido o cuidado de entrar de costas, fingindo estar a acenar a alguém. Hélio nada lhe disse, mas ficou descansado em virtude de ninguém ter notado a sua falta.

Na semana seguinte, Amélia, à hora previamente combinada, saiu sem ninguém ter dado por ela, exceto o seu amigo Hélio. Desta vez demorou horas a regressar. Hélio ficou em cuidado. Quando finalmente se decidiu a telefonar-lhe, viu-a entrar sorridente, de óculos escuros, vindo diretamente ter com ele.

- Tens novidades e das grandes, Amélia … não me digas que há outro mouro na costa…

- Digo, meu amigo.  Nem advinhas quem…

Hélio juntou os pauzinhos. Tantas horas fora do serviço e nada de repreensões? Hum… Tinha de ser um dos grandes… Talvez o diretor… - e arriscou- O diretor?

-Não se pode esconder nada de ti meu querido amigo! E venho pedir-te…

E não foi preciso completar a frase:

- E pediu-te em casamento e vens convidar-me para padrinho!

-Isso mesmo! Como é que sabes?

- Tens as pupilas tão dilatadas, só podia ser algo assim…

E Amélia, transbordando de felicidade, pendura-se-lhe ao pescoço, tresandando ao perfume daquelas ocasiões, enchendo-o de beijos e apertos asfixiantes.

Jorge C. Chora

18/11/2021

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