domingo, 14 de novembro de 2021

UM AMOR RETOMADO


Era sexta-feira, dia de ir ao mercado, aproveitando a sua hora de almoço. Apetecia-lhe berbigão. Quando se dirigia para as bancas do peixe teve uma sensação estranha. Viu do outro lado, nas filas paralelas, alguém a caminhar e a coçar a cabeça, de modo muito familiar. Olhou melhor e a sensação agudizou-se.

Tinha de averiguar o que se estava a passar. Foi seguindo com o olhar a pessoa, mas nada conseguiu apurar. Tinha quase a certeza, sentia que a conhecia, mas desconhecia quem era. Estava a confundi-la decerto!

Comprou o berbigão e dirigiu-se para a saída do mercado. Quando passava pela banca dos vegetais ouviu uma voz a perguntar quanto custava o molho de nabos. Teve a certeza de que aquela voz não lhe era nada estranha. Parou e deu de caras com a pessoa que seguira com o olhar.

Observou-a de modo rápido e teve a certeza de que a conhecia muito bem. Rebuscou na memória e a pessoa identificada, não correspondia, a todos os pormenores a quem ele se parecia. Olhou-a fixamente e quando ia pedir perdão por achar que a conhecia, mas não estava a ver quem era, ela reconheceu-o de imediato:

- Meu querido Sebastião – E abraçou-o de modo efusivo.

Sebastião não acreditou no que via. Tinha à sua frente a sua amada Joana com quem vivera dois anos. Ela fora especializar-se para França e não voltara.

À sua frente estava um homem, com o mesmo olhar doce da sua Joana, com uma pequena barbicha. Sebastião não estava a acreditar. Joana fora a única mulher que ele amara.

-Chamo-me agora João -informou-o, não lhe largando o braço e envolvendo-o pela cintura- enquanto lhe explicava que nunca o esquecera e continuava a gostar de homens.

Ao fim de uma semana, Sebastião só conseguia ver os lábios, o olhar, a doçura musculada de Joana e não resistiu: beijou-o com todo o seu amor, no que foi correspondido.

- Que nojo… -exclamaram dois jovens que passavam ao verem o beijo apaixonado.

João -Joana e Sebastião vivem juntos e a única concessão feita a Sebastião, foi tirar a barbicha porque ele nela se picava.

Jorge C. Chora

14/11/2021

Sem comentários:

Enviar um comentário