quarta-feira, 10 de novembro de 2021

O QUERUBIM

Seis amigas, à beira dos trinta anos, trocavam impressões após alguns anos sem se verem. Saltitando de assunto em assunto, de memória em memória, caíram na temática dos namoros.

Entre risotas bem-dispostas, abordaram as caraterísticas dos “pavios “de que mais tinham gostado e chegaram à conclusão de que eram medianos ou mesmo pequenos, mas gordos.

E foi nesta fase que um jovem, cerca de dez anos mais novo, que estava ao lado na esplanada, percebeu do que falavam e lhes disse, interrompendo com ar atrevido a conversa:

-Agora percebo porque atraio tantas mulheres! -e com um gesto, mostrava a falange do seu dedo indicador.

Elas entreolharam-se, deram uma grande gargalhada e a que estava mais próxima dele, franzindo o sobrolho, perguntou-lhe:

-O jovem é muito religioso, não é?

-Mas porque pergunta isso?

E em uníssono, as seis amigas, responderam-lhe:

- Só pode ser, se acredita em milagres! Ou então é um querubim, com tanto poder num pavio tão pequeno!

E o jovem, repreendendo-se, pensou: estás a ver no que dá exagerar as tuas qualidades? Ninguém acreditou!

E ainda mais surpreso ficou, quando a caminho da paragem do autocarro, viu parar à sua frente um carro, conduzido pela mais alta das amigas, que o convidou em voz suave e bem modulada:

-Entra Querubim!

 

Jorge C. Chora

  10/11/2021

 

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