sábado, 6 de novembro de 2021

A "MORCEGONA"

 Batizou-a o cusco da rua como” Morcegona”, não só devido ao seu tamanho, 1.80 m, como também pelo facto de a senhora só sair após o anoitecer, fazendo lembrar os morcegos.

Vestia-se de modo cuidado, mas sem luxos. Saía todos os dias, em direção ao seu velho, mas estimado carro, herdado do pai e entrava na viatura cinco minutos depois.

Morriam de curiosidade não só os vizinhos, mas também o cusco, como não podia deixar de ser:

- Quem é que ela é? Como se chama? O que faz?

E o cusco roía-se de desespero, por nada, mesmo nada dela conhecer, exceto a sua hora de saída.

Farto de não saber dar informações sobre a ”Morcegona”, inventou umas patranhas, nada abonatórias das virtudes da senhora.

 Um dia o cusco, alambazado como era, ao sentir-se doente, tomou um frasco de medicamentos após se ter empanturrado de comida e bebidas. Foi parar ao hospital onde lhe diagnosticaram uma intoxicação. O tratamento indicado não se fez esperar:

-Um clister, duplo para ser eficaz! e uma lavagem ao estômago….

E foi quando o cusco, pelo canto do olho, viu a médica que o estava a tratar: era a “Morcegona”.

Calou-se bem calado, rezando a todos os santinhos para que a médica não o reconhecesse e triplicasse a dose de clisteres!

Ainda hoje não sabe se foi ou não identificado, mas o certo é que nunca mais falou sobre a “Morcegona”.

 

Jorge C. Chora

6/11/2021

Sem comentários:

Enviar um comentário