terça-feira, 7 de fevereiro de 2023

AQUILES.

 

Aquiles era um homem inflexível e muito impaciente. Belicoso, assertivo em demasia, senhor de modos bruscos e pouco dado a conversas.

Não morria de amores nem por animais nem pelas pessoas, mas a sua esposa tinha-lhe uma verdadeira adoração e, curiosamente, também ele lhe retribuía o amor que ela lhe tinha.

Conheceram-se na primária, quando ela estava a ser alvo de um ataque à saída da escola. Aquiles atirou-se como gato a bofe, aos quatro, suportando pontapés, murros e cabeçadas. Concentrou-se num de cada vez. Ao primeiro, partiu-lhe um braço, ao segundo o nariz, tendo o facínora guinchado como um porco e fugido rua fora, acompanhado do amigo com a asa partida. Os dois restantes fugiram, mas Aquiles apanhou-os, e partiu-lhes a cabeça.

Desde esse dia, Aquiles e a colega não se largaram. Namoraram durante toda a escolaridade, inclusive na faculdade, e terminados os cursos casaram-se.

Um dia, quando atravessava a rua numa passadeira, foi atropelado e morreu.

Foi cremado e a esposa decidiu perpetuar a sua memória. Trouxe um pequeno arbusto que encontrou num terreno abandonado e deitou uma parte das cinzas de Aquiles, no canteiro onde o plantou.

No dia seguinte, qual não foi o seu espanto, ao ver o arbusto seco e todo encarquilhado.

A jardineira que trabalhava para o casal, ao ver a tristeza da viúva explicou-lhe:

- Minha senhora isso era uma lantana. É altamente tóxica e se as bagas forem ingeridas são altamente perigosas, principalmente para quem tem crianças.

E nesse momento, a inconsolável viúva que estava grávida, percebeu que o seu Aquiles continuava a cuidar dela e dos seus.

JORGE C. CHORA

    7/1/2023

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