sexta-feira, 24 de fevereiro de 2023

O MUDO QUE AFINAL FALAVA


 Quase todos que o conheciam o achavam mudo. Sentava-se à mesa do café e ali permanecia durante longas horas, na companhia da esposa e das suas amigas. Limitava-se a cumprimentar com um aceno de cabeça, ao chegar e quando partia.

Um dia um amigo de infância viu-o, veio ter com ele e falaram durante cerca de quinze minutos, perante o espanto dos que o consideravam mudo.

-Afinal fala! - espantaram-se os que nunca o tinham ouvido falar.

-Falo e muito! – respondeu o falso mudo.

- Com quem?

- Com os meus botões. Já repararam que as minhas camisas, embora novas, têm os botões todos gastos?

E quando não fala com os seus botões com quem fala?

-Também falo, mas, por escrito! escrevo cartas mentalmente e em casa passo-as ao computador!

Ninguém mais disse nada. Para ouvirem mais um a falar e a azucrinar-lhes a cabeça, como muitos o faziam minuto a minuto, preferiam mil vezes o silêncio do falso mudo e as patranhas dos botões gastos.

Jorge C. Chora

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