Um dia um
amigo de infância viu-o, veio ter com ele e falaram durante cerca de quinze
minutos, perante o espanto dos que o consideravam mudo.
-Afinal
fala! - espantaram-se os que nunca o tinham ouvido falar.
-Falo e
muito! – respondeu o falso mudo.
- Com quem?
- Com os
meus botões. Já repararam que as minhas camisas, embora novas, têm os botões
todos gastos?
E quando não
fala com os seus botões com quem fala?
-Também
falo, mas, por escrito! escrevo cartas mentalmente e em casa passo-as ao computador!
Ninguém mais
disse nada. Para ouvirem mais um a falar e a azucrinar-lhes a cabeça, como muitos
o faziam minuto a minuto, preferiam mil vezes o silêncio do falso mudo e as
patranhas dos botões gastos.
Jorge C.
Chora
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