sexta-feira, 27 de junho de 2025

A DÁDIVA

           

Do céu choveram pétalas,

flores de laranjeira e jasmim,

misturadas com centos de rosas,

brancas, amarelas e carmim.

Misturadas, caíram folhas imaculadas,

não de flores, mas de papel, perfumadas,

todas elas com poemas de amor e paz.

Acorreram os aldeões, fartos de guerra

e da fome, àquele maná caído dos céus,

premonitório do fim das atrocidades

e da almejada tranquilidade.

E do céu, quando menos esperavam,

 caíram, tal qual gigantescos ovos de avestruz,

dúzias de bombas que chacinaram todos os

os presentes ali reunidos.

Nada de pé ficou.

Uma folha de papel foi projetada e caiu ao rio.

Um movimento súbito em direção à folha,

criou a ilusão de algum sobrevivente:

era um lagarto medonho que abocanhou a folha e logo a vomitou.

                        Jorge C. Chora

                           21/6/2025

 

 

O PITOSGA


Se de perto pouco vê,

ao longe ainda pior,

razão por que sorri,

a quem longe está,

não vá deixar de saudar

quem conhece, e fazer

má figura mesmo sem querer.

Vai daí, dá-se melhor

com quem não vê

e não conhece,

dos que conhece,

mas também não deixa

efusivamente e de os cumprimentar

não vá um deles ser o Trump.

          Jorge C. Chora

              21/6/2025

segunda-feira, 23 de junho de 2025

O DEMO NAS FESTAS JUNINAS


Saiu lá dos infernos,

ao cheiro da sardinha

e da bela bifana,

ocultando o rabo bifurcado,

 dando às ancas nas marchas,

abraçando uma bela marchante.

Lucifer, disfarçado de boa gente,

 ao terminar as festas juninas,

consigo quis levar as três mais

belas bailarinas, mas só conseguiu

que os assadores de sardinhas e bifanas,

lhe espetassem o rabo bifurcado,

lhe batessem com os alhos porros

e o alvejassem com centenas de manjericos.

Por fim, assaram-lhe a cauda bifurcada e fedorenta,

e deram-na aos cães, tendo-se estes não só recusado

 comê-la, como ainda lhe urinaram em cima.

                  Jorge C. Chora

                       23/7/2025


domingo, 22 de junho de 2025

LADRÃO CONVICTO

 


Sou ladrão convicto,

não de lamborghinis,

anéis de platina ou rubis.

Roubo beijos em lábios

carnudos e perfeitos,

entreabertos e convidativos,

aliás consentidos,

mas não esperados:

de manhã, à tarde ou à noite,

acordados ou a dormir,

estes mais suaves para não as acordar.

Não tenho preferências:

esteja o céu nublado ou limpo,

claro ou escuro,

seja verão, inverno, outono ou primavera,

saibam eles a mirtilo, morango, baunilha

ou a miscelânea de frutos,

dou-os ou roubo-os com convicção,

sem nunca pensar em lamborghinis,

anéis de platina ou rubis.

Confesso, sou ladrão convicto,

em roubar beijos em lábios carnudos e perfeitos,

entreabertos e convidativos

mas tacitamente consentidos.

 

              Jorge C. Chora

                  22/6/2025º

sábado, 21 de junho de 2025

A ESCOLHA

 

Dos teus outrora

lindos olhos,

nada sobrou:

são tristes e mortiços,

como os dos peixes

anteontem pescados.

O verde vivo e transparente,

tornou-se lodoso, opaco

e inexpressivo.

Quando os tinhas vivos,

tanto os rodaste,

buscando quem te agradasse,

recusando todos,

e agora, ninguém sequer te olha,

exceto, quem de ti pena tem,

ao recordar como eras e como estás.

                Jorge C. Chora

                   21/&/2025

quinta-feira, 19 de junho de 2025

A FORÇA DO DESTINO

 

       

Tudo é atribuído ao destino, quando por qualquer razão,

 nos entregamos à sorte e deixamos de lutar.

                    Jorge C. Chora

                       19/6/2025

A RAZÃO E SER


Ter saudades de

quem de nós não tem,

alguma razão tem:

ou não retribuímos o recebido,

ou oferecemos o imerecido!

        Jorge C. Chora

           19/6/025

domingo, 15 de junho de 2025

O TEU BAILADO

 

Em meus olhos bailas,

com os teus pés de veludo,

em todo o teu esplendor,

mesmo não estando,

onde já estiveste e não estás,

devido à tua breve ausência.

Sinto o teu aroma,

a maciez da tua língua,

o delicioso sabor agridoce,

dos teus outros lábios,

humedecidos pelas carícias,

preparados e contraindo-se,

para receber a quente dádiva,

com ais emitidos e gemidos agradecidos.

        Jorge C. Chora

          15/6/2025

sábado, 14 de junho de 2025

DA MENTIRA À DESGRAÇA

 


Mentir com graça,

até pode ser arte,

mas deixa de o ser

e passa a desgraça,

quando o mentiroso,

afirma ser verdade,

a mentira dita com arte.

 

Jorge C. Chora

   14/6/2025

sexta-feira, 13 de junho de 2025

STº ANTÓNIO

 

  

Sardinha no pão,

manjerico n’outra mão,

só resta o beijo na boca

e não diga que ela é louca!

   Jorge C. Chora

    13/6/2025

terça-feira, 10 de junho de 2025

A DURA VIDA DE MARIA CORRE -CORRENA VILA DA ERICEIRA

 

A DURA VIDA DA MARIA CORRE-CORRE

              NA VILA DA ERICEIRA

Maria Corre-Corre

anda sempre na lufa-lufa,

ora para cima ora para baixo,

sempre sem parar,

tentando ganhar a vida,

trabalhando em tudo o que aparece.

Só mercado da Ericeira,

encontra refrigério:

repousa os olhos na beleza dos produtos expostos

e restabelece a sua temperatura corporal,

à custa dos arrepios,

provocados, pelos altos preços aí praticados;

escalda-se no inverno, enregela-se no verão.

O preço proibitivo da água na Ericeira,

pobre como é,

obriga-a a utilizar um estratagema para a poupar:

não usa calcinhas e aproveita os ventos locais,

para se refrescar,

e sem intenção ou maldade,

beneficia os menos remediados,

com o cheirinho do fiel amigo,

evitando terem de o comprar

ao preço que ele está!

        Jorge C. Chora

          9/10/2025

quinta-feira, 5 de junho de 2025

A DESPEDIDA

Despedida sem beijo

é flor sem pétalas,

envelope sem carta,

fogo extinto,

retorno interdito,

bilhete de ida sem volta.

    Jorge c. Chora

      5/5/2025


terça-feira, 3 de junho de 2025

PARECE É SER?

 

Entre o ser

e o parecer ser,

uma distância parece haver.

Só à mulher

de César,

não bastava ser,

mas hoje,

tem-se como certo,

que basta parecer

para todos jurarem ser,

quando nem sempre é,

aquilo que parece ser.

    Jorge C. Chora

       3/6/2025

 

segunda-feira, 2 de junho de 2025

A TUA BOCA

 

É um favo de mel,

não há uma só palavra,

a dizer mal,

nenhuma a saber a fel.

É oráculo e fonte d’amor,

seus conselhos são laços

doados a quem se lhe doa,

paraíso inigualável,

de mel, sabor e amor.

 Jorge C. Chora

        2/6/2025

domingo, 1 de junho de 2025

NESTE DIA DA CRIANÇA


Desejo que seja o último,

onde se impedem as traquinices

próprias das crianças,

os gritos de alegria,

e as suas cavalgadas imaginárias,

e se ponha fim aos gritos lancinantes,

das crianças chacinadas,

sob o olhar alucinado de suas mães,

se acaso escaparam aos assassinatos.

Ninguém esquece as crianças,

 de Gaza, da Ucrânia,

e não só.

Todos esperamos severo castigo,

a todos os criminosos de guerra,

quiçá imposto pelos próprios tribunais nacionais,

 libertos das tutelas abusivas,

 das tiranias e oligarquias,

que silenciam a justiça e tentam branquear o genocídio,

levado a cabo, em direto, à vista de todo o mundo.

          Jorge C. Chora

              1/6/2025