sexta-feira, 27 de junho de 2025

A DÁDIVA

           

Do céu choveram pétalas,

flores de laranjeira e jasmim,

misturadas com centos de rosas,

brancas, amarelas e carmim.

Misturadas, caíram folhas imaculadas,

não de flores, mas de papel, perfumadas,

todas elas com poemas de amor e paz.

Acorreram os aldeões, fartos de guerra

e da fome, àquele maná caído dos céus,

premonitório do fim das atrocidades

e da almejada tranquilidade.

E do céu, quando menos esperavam,

 caíram, tal qual gigantescos ovos de avestruz,

dúzias de bombas que chacinaram todos os

os presentes ali reunidos.

Nada de pé ficou.

Uma folha de papel foi projetada e caiu ao rio.

Um movimento súbito em direção à folha,

criou a ilusão de algum sobrevivente:

era um lagarto medonho que abocanhou a folha e logo a vomitou.

                        Jorge C. Chora

                           21/6/2025

 

 

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