ARNALDO E
BEATRIZ
Às oito em
ponto Arnaldo corria à janela para ver passar Beatriz. Ela era sua colega na
faculdade, embora estivesse mais adiantada. Tinha mais três anos do que ele.
Era bela, com o cabelo cor de asa de corvo e morena.
Ele amava-a,
mas era demasiado tímido para se declarar. Limitava-se a acenar e ela retribuía-lhe
o aceno.
Um dia, à
mesma hora de sempre, viu-a abraçada à Amélia, uma colega do mesmo ano.
São amigas
disse para si próprio. Depressa se convenceu de que não eram só amigas, pois
viu-as beijarem-se apaixonadamente.
Desiludido pensou
em deixar de ir à janela, pois cada beijo que Amélia recebia da Beatriz, era um
beijo que ela lhe roubava à sua frente.
Ambas lhe
acenavam quando ele as cumprimentava diariamente.
Se Beatriz
amava Amélia, também ele a devia amar, pois ele gostava de tudo o que Beatriz
gostava.
Uma doença
súbita subtraiu Amélia de Beatriz.
No seu
funeral, para além de Beatriz e Arnaldo, ninguém compareceu.
Beatriz surpreendeu-se
ao ver a imensa tristeza da Arnaldo com a morte da sua amada.
- Tu
conhecias bem a Amélia? - perguntou-lhe Beatriz.
-Amava-a porque
tu a amavas…
Beatriz
deu-lhe a mão e ele beijou-a com todo carinho.
Beatriz
percebeu que perdera um amor, mas ganhara outro, tão forte e belo, ao ponto de
amar quem ela amava.
Saíram de
mão dada, fundidos num só, pelo amor comum que tinham a Amélia.
Jorge C.
Chora
28/8/2025

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