quinta-feira, 28 de agosto de 2025

 

ARNALDO E BEATRIZ

Às oito em ponto Arnaldo corria à janela para ver passar Beatriz. Ela era sua colega na faculdade, embora estivesse mais adiantada. Tinha mais três anos do que ele. Era bela, com o cabelo cor de asa de corvo e morena.

Ele amava-a, mas era demasiado tímido para se declarar. Limitava-se a acenar e ela retribuía-lhe o aceno.

Um dia, à mesma hora de sempre, viu-a abraçada à Amélia, uma colega do mesmo ano.

São amigas disse para si próprio. Depressa se convenceu de que não eram só amigas, pois viu-as beijarem-se apaixonadamente.

Desiludido pensou em deixar de ir à janela, pois cada beijo que Amélia recebia da Beatriz, era um beijo que ela lhe roubava à sua frente.

Ambas lhe acenavam quando ele as cumprimentava diariamente.

Se Beatriz amava Amélia, também ele a devia amar, pois ele gostava de tudo o que Beatriz gostava.

Uma doença súbita subtraiu Amélia de Beatriz.

No seu funeral, para além de Beatriz e Arnaldo, ninguém compareceu.

Beatriz surpreendeu-se ao ver a imensa tristeza da Arnaldo com a morte da sua amada.

- Tu conhecias bem a Amélia? - perguntou-lhe Beatriz.

-Amava-a porque tu a amavas…

Beatriz deu-lhe a mão e ele beijou-a com todo carinho.

Beatriz percebeu que perdera um amor, mas ganhara outro, tão forte e belo, ao ponto de amar quem ela amava.

Saíram de mão dada, fundidos num só, pelo amor comum que tinham a Amélia.

Jorge C. Chora

28/8/2025





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