sexta-feira, 9 de abril de 2010

Nem por encomenda!

Olhou para a mulher de modo disfarçado e ela suava. Não estava calor nenhum. Fazia frio e o Inverno ainda ia a meio.

Sabia perfeitamente a causa do nervosismo da esposa. Resolveu ver se a situação melhorava por si própria. Piorou. Os lábios dela tremiam-lhe e suava de modo intenso. Não podia, de modo nenhum, prolongar o sofrimento estampado no seu rosto. Resolveu suavizar o mal-estar:

-Estás mal disposta?

-Não… não…

-Esqueceste-te de alguma coisa em casa? - e abrandou a velocidade ,que já era pouca, e iniciou a manobra para parar a viatura.

-Hum… hum…. Desculpa-me, acho que deixei o ferro de engomar ligado… tenho essa impressão e não consigo lembrar-me de o ter desligado…

-Mas tu não estiveste a passar hoje…

-Olha … estou confusa… estou com um pressentimento de que o deixei ligado…

O marido estacionou o carro. Sorriu e disse-lhe:

-Um momento…. - e inclinou-se um pouco para trás, esticou o braço, remexeu de baixo do banco e puxou um saco, que abriu e mostrou …

-Trouxeste o ferro?

-Acalma-te. Ele está aqui.

-Obrigada - e um sorriso terno começou a despontar-lhe no rosto, mas logo desapareceu.

-Agora lembraste – te do ferro de viagem… e julgas que ele… - e o marido abriu um segundo saco, que se ocultava junto ao primeiro - e mostrou o pequeno ferro de viagem.

-Obrigada…

- Agora vais falar com o teu filho, que está em nossa casa, neste momento, pronto a responder-te às perguntas que lhe queres fazer…

-Ó filho diz-me se…

-O Gás está fechado, as torneiras e o quadro eléctrico também… Boa viagem – interrompeu o filho.

Finalmente, um sorriso rasgado, feliz e despreocupado assenhoreou-se da senhora, que desabafou:

-Ai se eu não tivesse tanta paciência com as tuas manias…

Queria um marido assim? Só nas histórias estimada leitora.

Jorge C. Chora

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