segunda-feira, 12 de abril de 2010

O Baile da debutante

A rapariga via as horas a passarem e mostrava-se nervosa. Olhava para o relógio, de início espaçadamente, mas agora de minuto a minuto consultava-o, embora nem visse de facto as horas. De modo inconsciente, quanto mais olhava, sabia que menos tempo faltava para a hora de saída e esta ,de certo modo, chegaria mais cedo.

Os colegas observavam-na, mas evitavam perguntar-lhe a razão do nervosismo. Sabiam por experiência própria as respostas tortas que ela dava quando se enervava, ou estava com os” azeites”, como ela dizia.

Os colegas, mesmo sem quererem, tinham os olhos presos no vai e vem rápido que ela executava, de uma ponta à outra do balcão. Por fim até dava pulinhos.

Semelhante agitação não passou despercebida ao seu chefe que parou ostensivamente de trabalhar para a fitar.

Sentindo-se observada com aquela intensidade, ficou a roer-se por dentro, contendo uma resposta menos própria.

Faltavam ainda 5 minutos para a saída. Tinha de fazer das tripas coração para não pedir para sair. Sabia que se o fizesse, perderia o tempo e o feitio, para além de inviabilizarem o pedido ainda receberia um sermão sobre as suas obrigações e, mais grave do que isso, sairia mais tarde. Alturas houve em que chegaram a dar-lhe mais trabalho…
Calada durante os segundos que faltavam, explodiu à hora exacta da saída:

-Quem advinha para onde vou?

Ninguém ousou adivinhar.

-Vá digam… eu ajudo… vou ter aulas… aulas de?

O chefe, com um sorriso velhaco, diz, fingindo muito interesse pelas actividades da gaiata de dezoito anos:

-Talvez para as aulas de catequese…

A funcionária ia morrendo com uma apoplexia. Nunca lhe passou pela cabeça responder-lhe que ia ter a sua primeira aula de condução.

Os colegas ficaram siderados. O silêncio entrecortado da respiração colectiva e ofegante dos colegas, adensou o clima de tempestade preste a explodir.
A jovem vira-se para o chefe e diz-lhe ,com a maior calma:

-Se fosse o senhor a dá-las, não faltaria por nada deste mundo… - e faz uma vénia como se estivesse num baile de debutantes.


Jorge C. Chora

1 comentário: