quarta-feira, 21 de setembro de 2016

O GALO DESTRAMBELHADO

                 

Suspeito que o meu vizinho capou o galo que tem na capoeira. Este anda furioso com a perda sofrida e há quem diga que o animal até muda de cor pois, umas vezes está vermelho, outras rôxo e ainda, no auge da raiva, negro que nem um tição.

E o estupor do bicho reclama, sem atender nem à hora nem ao dia, seja de trabalho ou de descanso, num estilo roufenho e dolente, numa toada mourisca que ninguém percebe, mas que se sente ser de lamento e revolta,  por lhe terem tirado aquilo que o fazia ser um grande galo.

Canta de manhãzinha, mesmo antes da hora prima, segue-se a cantoria todo o dia, mesmo após as completas, emitindo aquele som desqualificado, de galo capado, de político que ninguém ouve.
Pior, mas muito pior, do que o seu cantar, é o coro de carpideiras que o acompanham. Escutem! Ouçam:

-Estamos fracas…estamos fracas…estamos fracas…

E o galo, convencido  que deve ser ouvido, levanta a crista e canta a propósito de tudo e de nada, aproveitando todas as oportunidades, tornando-se insuportável.

Se alguém tivesse o condão de fazer o destrambelhado retroceder até voltar a estar no ovo, estou certo de que todos os que o ouvem o impediam de ser chocado. Melhor ainda, penso que surgiriam os adeptos dos que o estatelariam no chão e procederiam como Pombal, salgando o solo, garantindo que o malvado galaró não deixaria semente.

Por mim, que não advogo soluções tão radicais, pagar-lhe-ia uma operação estética que lhe reimplantasse os ditos e fizesse com que ele abandonasse o estatuto de “castrati” desafinado.


Jorge C. Chora

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