Suspeito que o meu vizinho capou o galo que tem na capoeira.
Este anda furioso com a perda sofrida e há quem diga que o animal até muda de
cor pois, umas vezes está vermelho, outras rôxo e ainda, no auge da raiva,
negro que nem um tição.
E o estupor do bicho reclama, sem atender nem à hora nem ao
dia, seja de trabalho ou de descanso, num estilo roufenho e dolente, numa toada
mourisca que ninguém percebe, mas que se sente ser de lamento e revolta, por lhe terem tirado aquilo que o fazia ser um
grande galo.
Canta de manhãzinha, mesmo antes da hora prima, segue-se a
cantoria todo o dia, mesmo após as completas, emitindo aquele som
desqualificado, de galo capado, de político que ninguém ouve.
Pior, mas muito pior, do que o seu cantar, é o coro de
carpideiras que o acompanham. Escutem! Ouçam:
-Estamos fracas…estamos fracas…estamos fracas…
E o galo, convencido que deve ser ouvido, levanta a crista e canta
a propósito de tudo e de nada, aproveitando todas as oportunidades, tornando-se
insuportável.
Se alguém tivesse o condão de fazer o destrambelhado
retroceder até voltar a estar no ovo, estou certo de que todos os que o ouvem o
impediam de ser chocado. Melhor ainda, penso que surgiriam os adeptos dos que o
estatelariam no chão e procederiam como Pombal, salgando o solo, garantindo que
o malvado galaró não deixaria semente.
Por mim, que não advogo soluções tão radicais, pagar-lhe-ia
uma operação estética que lhe reimplantasse os ditos e fizesse com que ele
abandonasse o estatuto de “castrati” desafinado.
Jorge C. Chora
Sem comentários:
Enviar um comentário