Lembro-me dos meus pais contarem, a mim e ao meu irmão, a
história de um porco que vivia no nosso quintal e tinha a mania que era um cão.
Éramos muito pequenos e não chegámos a conhecê-lo.
Como todos os animais que existiam lá por casa, o destino do
porco era o de viver em paz e em sossego até ao fim dos seus dias. Este era
especial. Aproveitava o facto de estar no Macúti, ao pé da praia (e que praia!)
e ganhou o hábito de ir tomar banho ao mar. Durante a semana a praia estava
deserta. Quando tornava a casa, ia para a zona do tanque onde recebia um banho,
dado à mangueira, que o libertava do sal.
Quando os meus pais iam para o serviço, o porco corria atrás
da viatura até se cansar. Alguns vizinhos surpreendiam-se com o seu aspecto:
- O Anselmo tem um cão que mais parece um porco!
- Ele não só parece, como é mesmo um porco… -explicava.
Um belo dia o meu pai decidiu que fazia falta uma passadeira
que ligasse a garagem à cozinha, pois ainda era necessário atravessar uma
distância grande de areia da praia até chegar à habitação.
Com esforço, muita paciência e algum dispêndio monetário a
obra foi feita. Quando à tarde regressou a casa, qual não foi o seu espanto ao
ver a passadeira destruída.
O porco foi prontamente identificado como o autor da
façanha
.
-Matem-me esse porco! -reagiu o meu pai, furioso com o
sucedido.
No dia seguinte, à hora do almoço, o cozinheiro fez uma
entrada triunfal, com uma enorme travessa de porco assado no forno, recheado de
batatas.
O cozinheiro
interpretara à letra o desabafo e tratou da saúde ao banhista de quatro patas,
ao companheiro das corridas matinais, ao pacífico habitante do quintal que se
achava mais cão do que bacorinho.
Ninguém comeu. A refeição foi distribuída à vizinhança que a
elogiou e que algumas vezes,
passados anos, brincava com o assunto:
-Então quando é que temos outro pitéu como aquele?
Jorge C. Chora
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