quarta-feira, 7 de setembro de 2016

O MACÚTI HÁ MAIS DE SESSENTA ANOS/O FIM INGLÓRIO DE UM BACORINHO QUE TINHA A MANIA QUE ERA CÃO



                         

Lembro-me dos meus pais contarem, a mim e ao meu irmão, a história de um porco que vivia no nosso quintal e tinha a mania que era um cão. Éramos muito pequenos e não chegámos a conhecê-lo.

Como todos os animais que existiam lá por casa, o destino do porco era o de viver em paz e em sossego até ao fim dos seus dias. Este era especial. Aproveitava o facto de estar no Macúti, ao pé da praia (e que praia!) e ganhou o hábito de ir tomar banho ao mar. Durante a semana a praia estava deserta. Quando tornava a casa, ia para a zona do tanque onde recebia um banho, dado à mangueira, que o libertava do sal.

Quando os meus pais iam para o serviço, o porco corria atrás da viatura até se cansar. Alguns vizinhos surpreendiam-se com o seu aspecto:

- O Anselmo tem um cão que mais parece um porco!

- Ele não só parece, como é mesmo um porco… -explicava.

Um belo dia o meu pai decidiu que fazia falta uma passadeira que ligasse a garagem à cozinha, pois ainda era necessário atravessar uma distância grande de areia da praia até chegar à habitação.

Com esforço, muita paciência e algum dispêndio monetário a obra foi feita. Quando à tarde regressou a casa, qual não foi o seu espanto ao ver a passadeira destruída.

O porco foi prontamente identificado como o autor da façanha
.
-Matem-me esse porco! -reagiu o meu pai, furioso com o sucedido.

No dia seguinte, à hora do almoço, o cozinheiro fez uma entrada triunfal, com uma enorme travessa de porco assado no forno, recheado de batatas.

 O cozinheiro interpretara à letra o desabafo e tratou da saúde ao banhista de quatro patas, ao companheiro das corridas matinais, ao pacífico habitante do quintal que se achava mais cão do que bacorinho.

Ninguém comeu. A refeição foi distribuída à vizinhança que a elogiou e que algumas vezes,
passados anos, brincava com o assunto:

-Então quando é que temos outro pitéu como aquele?


Jorge C. Chora

Sem comentários:

Enviar um comentário