Um calor avelhacado reinou no princípio de agosto e
infernizou a vida de toda a gente.
Até a fruta se queimou. As amoras silvestres, indispensáveis
para fazer o doce aos netos, foram atingidas em cheio. Calcorreou, seca e meca,
para as colher, mas elas estavam mirradas. Picou as mãos e os braços e só
colheu amoras enfezadas, que só a muito custo serviriam para alguma coisa.
Para os compensar pensou em comprar um frasco num
supermercado, mas desistiu da ideia. Imaginou-os, de mãos juntas postas em
oração, suplicando: do supermercado não vale! Esse não é da minha avó.
De coração apertado, voltou às silvas e lá conseguiu obter
uma pequena quantidade para não desiludir os pequenos e adorados lambões.
E, como por milagre, a neurose do cão do meu vizinho, que
ladra por ouvir ladrar e redobra por não ouvir, acalmou-se, talvez por se
aperceber que a avó tinha levado avante o que queria.
Jorge C. Chora
17.08.2018
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