terça-feira, 7 de agosto de 2018

O PSICHÉ DE D. CREMILDE


                                                 
Cremilde destinava a quarta-feira, como o dia em que decidira abrir as portas de sua casa às vizinhas.
Herdara da Srª D. Virgínia um psiché, coisa rara por aquelas bandas. Servira em casa desta senhora abastada e ela deixou-lho em testamento.
No dia em que ele chegou a sua casa, gerou-se um charivari à sua porta, que impediu a apreciação cabal e a satisfação da curiosidade da preciosidade, por parte da vizinhança.
Cremilde, de modo magnânimo, decretou a terceira quarta-feira de cada mês, para visitas ao psiché, em sua casa. Só dez pessoas de cada vez eram admitidas à visita mensal.
-Para que queres um espelho tão grande ?- questionavam as amigas.
Cremilde explicava que se sentava à sua frente e se arranjava, penteava e colocava o pó-de-arroz, tal como vira a Srª D. Virgínia fazer todos os dias durante anos.
-Mas há três espelhos!
-Claro e isso é a melhor coisa deste psiché…
-Como assim?
 E D. Cremilde afivelava um sorriso maroto e convidava:
-Sentem-se e vejam que no espelho da direita é possível ver a minha cama… O meu Joaquim, como sabem, é um republicano dos quatro costados. Depois do 5 de Outubro, enche-se de certas vontades e eu daqui observo-o, vejo o que se passa, e não deixo que elas lhe desapareçam…
E na vila, sempre que alguém enriquecia, as esposas pediam que lhes comprassem um psiché.

Jorge C. Chora
7/8/2018

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