Manuela e Guida encomendaram um babá e um chá. A pastelaria estava repleta e elas ocupavam uma pequena mesa de canto com duas cadeiras vagas.
Elas eram
amigas de longa data. Frequentaram desde pequenas o mesmo colégio interno, onde
partilhavam o mesmo quarto e se habituaram a partilhar a mesma cama, às
escondidas, pois ninguém as incomodava porque só lá entravam, após baterem à
porta e receberem autorização prévia para entrarem. Formaram-se ambas com
distinção, moravam no mesmo bairro e encontravam-se quase todos os dias.
Nesse dia
decidiram tomar chá juntas. Serviram-lhes o chá e o babá e enquanto cortavam o
bolo para o dividirem entre si, dois irmãos que viriam a saber serem gémeos,
pediram-lhes para se sentarem à sua mesa.
-Façam o
favor de se sentarem – autorizaram.
- Muito
obrigado… a pastelaria está repleta… pedimos-vos desculpa.
-Não faz
mal, estejam à vontade – e ato continuo, cortaram o bolo e cada uma deu à outra,
o pedaço do babá que tinha cortado.
Os gémeos
apresentaram-se como Luís e João.
Nos dias
seguintes, com o estabelecimento cheio, os gémeos foram convidados pela Manuela
e pela Guida a sentaram-se à sua mesa. Em breve Manuela demonstrou interesse
pelo Luís e a Guida pelo João. Sem revelarem qualquer estranheza, João e Luís
retribuíram-lhes a afeição demonstrada.
Algum tempo
depois passaram a viver todos na mesma casa, já que essa foi a condição
colocada pela Manuela e pela Guida. João e Luís já moravam juntos na casa
grande da quinta onde viviam, e não foi difícil aceder ao pedido.
Todas as
tarefas eram divididas e à medida que iam nascendo os filhos, três da Margarida
e dois da Manuela, elas tomavam conta indiferentemente dos seus e dos
sobrinhos. Só uma coisa elas não partilhavam: os gémeos. Como eles eram
idênticos, elas não estiveram com meias medidas: mandaram tatuar-lhes os nomes
delas nos braços esquerdos dos seus respetivos gémeos. Uma coisa era os miúdos saberem
que as mães deles eram como uma só mãe, e outra, completamente diferente, era não
saberem se eram primos ou se eram irmãos!
Confusão por
confusão, já bastava a balbúrdia reinante numa casa habitada por nove pessoas.
Nessa tarde
deslocaram- se todos ao restaurante da vila. Margarida e Manuela entraram de
mãos dadas, com os filhos formando uma fila lateral e os maridos na retaguarda.
Os olhares
dos presentes chispavam de curiosidade e uma certa recusa, pois era voz
corrente a situação da família Osório.
João e Luís
notaram o clima de adversidade reinante, dirigiram-se ao Fernando, um habitante
local e perguntaram-lhe, bem alto:
-O que é que
se passa convosco? Foram alunos destas duas irmãs, que são nossas mulheres e
foram corridos a negativas? Se foi assim não devem queixar-se! Elas foram
profissionais bondosas, mas exigentes! Olhem que elas não são muito boas de
assoar!
Um silêncio
sepulcral instalou-se, de imediato. Irmãs? Então o aldrabão do Humberto,
inventou tintim por tintim, a história da família Osório? Pensaram furiosos, todos
os presentes que sabiam da história.
O restaurante
despovoou-se. Pela vila ecoaram, durante toda a noite, gritos pouco amistosos:
-Por onde
andas tu, Humberto de uma figa!
Jorge C. Chora
19/02/2022
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