sábado, 19 de fevereiro de 2022

OS OSÓRIOS

Manuela e Guida encomendaram um babá e um chá. A pastelaria estava repleta e elas ocupavam uma pequena mesa de canto com duas cadeiras vagas.

Elas eram amigas de longa data. Frequentaram desde pequenas o mesmo colégio interno, onde partilhavam o mesmo quarto e se habituaram a partilhar a mesma cama, às escondidas, pois ninguém as incomodava porque só lá entravam, após baterem à porta e receberem autorização prévia para entrarem. Formaram-se ambas com distinção, moravam no mesmo bairro e encontravam-se quase todos os dias.

Nesse dia decidiram tomar chá juntas. Serviram-lhes o chá e o babá e enquanto cortavam o bolo para o dividirem entre si, dois irmãos que viriam a saber serem gémeos, pediram-lhes para se sentarem à sua mesa.

-Façam o favor de se sentarem – autorizaram.

- Muito obrigado… a pastelaria está repleta… pedimos-vos desculpa.

-Não faz mal, estejam à vontade – e ato continuo, cortaram o bolo e cada uma deu à outra, o pedaço do babá que tinha cortado.

Os gémeos apresentaram-se como Luís e João.

Nos dias seguintes, com o estabelecimento cheio, os gémeos foram convidados pela Manuela e pela Guida a sentaram-se à sua mesa. Em breve Manuela demonstrou interesse pelo Luís e a Guida pelo João. Sem revelarem qualquer estranheza, João e Luís retribuíram-lhes a afeição demonstrada.

Algum tempo depois passaram a viver todos na mesma casa, já que essa foi a condição colocada pela Manuela e pela Guida. João e Luís já moravam juntos na casa grande da quinta onde viviam, e não foi difícil aceder ao pedido.

Todas as tarefas eram divididas e à medida que iam nascendo os filhos, três da Margarida e dois da Manuela, elas tomavam conta indiferentemente dos seus e dos sobrinhos. Só uma coisa elas não partilhavam: os gémeos. Como eles eram idênticos, elas não estiveram com meias medidas: mandaram tatuar-lhes os nomes delas nos braços esquerdos dos seus respetivos gémeos. Uma coisa era os miúdos saberem que as mães deles eram como uma só mãe, e outra, completamente diferente, era não saberem se eram primos ou se eram irmãos!

Confusão por confusão, já bastava a balbúrdia reinante numa casa habitada por nove pessoas.

Nessa tarde deslocaram- se todos ao restaurante da vila. Margarida e Manuela entraram de mãos dadas, com os filhos formando uma fila lateral e os maridos na retaguarda.

Os olhares dos presentes chispavam de curiosidade e uma certa recusa, pois era voz corrente a situação da família Osório.

João e Luís notaram o clima de adversidade reinante, dirigiram-se ao Fernando, um habitante local e perguntaram-lhe, bem alto:

-O que é que se passa convosco? Foram alunos destas duas irmãs, que são nossas mulheres e foram corridos a negativas? Se foi assim não devem queixar-se! Elas foram profissionais bondosas, mas exigentes! Olhem que elas não são muito boas de assoar!

Um silêncio sepulcral instalou-se, de imediato. Irmãs? Então o aldrabão do Humberto, inventou tintim por tintim, a história da família Osório? Pensaram furiosos, todos os presentes que sabiam da história.

O restaurante despovoou-se. Pela vila ecoaram, durante toda a noite, gritos pouco amistosos:

-Por onde andas tu, Humberto de uma figa!

 

 

    Jorge C. Chora

     19/02/2022

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