Madalena
gostava de Rodrigo. Ambos eram viúvos e em comum tinham o facto de terem
gostado imenso dos respetivos falecidos.
Rodrigo, em
linguagem comum, era um atado. Coibia-se de dar opiniões porque podiam ofender
alguém. Era delicado por natureza, tudo estava bem para ele e admitia até as
faltas de respeito, não por cobardia, mas porque achava que era impor-se aos
que não tinham tido a oportunidade de aprender e assimilar as regras básicas.
Em suma, Rodrigo era tido como um banana, por todos os abusadores.
Madalena ia
aos arames ao presenciar a forma como tratavam o seu amor escondido. A
aproximação ao Rodrigo era difícil, pois não sabia, como fora das horas de
serviço era possível estar com ele, vir a abraçá-lo, dar-lhe apoio, apertá-lo,
beijá-lo, fazê-lo sentir o amor que lhe tinha.
Um dia
acabou por descobrir que aos fins de semana, Rodrigo ia à pesca.
Aproximou-se
e disse-lhe:
-Ó Rodrigo
eu passo uns fins de semana péssimos. Gosto de pescar, mas não vou, porque não
tenho companhia. Soube que pescas e a tua companhia era ideal para mim!
Sem
escapatória, Rodrigo convidou-a.
Compareceu
Madalena no local combinado. Trouxera uma velha cana de pesca, que era do seu
falecido pai, que por sua vez a tinha herdado já do seu avô.
Ao fim de
algumas horas, Rodrigo estranhou que o peixe picasse na sua linha e nem sinal
de interesse manifestasse pela de Madalena.
-Minha amiga
não sei o que se passa, mas o peixe não pica o seu isco!
-Madalena
não se fez rogada:
-Meu querido
Rodrigo. O peixe que eu ardentemente desejo, não está no mar, está aqui ao meu
lado… A minha linha não tem anzol …O isco sou eu e o peixe és tu!
Rodrigo
roborizou-se, engasgou-se, encheu-se de coragem e disse-lhe:
-Adorava ser
o teu peixe e tu a minha sereia…
E antes que
Rodrigo pudesse dizer algo mais, Madalena tomou a iniciativa: agarrou-o,
beijou-o, despiu-o e possuíram-se até à exaustão.
A partir
desse dia, não houve um único fim de semana que não tivesse sido dedicado à
pesca. A única diferença, é que a cana de pesca do Rodrigo deixou também de ter
anzol para que ele não mais tivesse qualquer distração com a observação da
linha e o picar dos peixes.
E durante a
semana, enquanto não se mudaram para a casa de um deles, o que mais necessidade
sentia do outro, enviava-lhe uma mensagem: Apetece-me pescar. E a ti?
Jorge C.
Chora
&/02/2022
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