Em vão aguardou pela carta da querida.
Quando já desesperava,
e nada esperava,
recebeu-a, registada,
com aviso de receção.
Levantou-a no correio e abriu-a,
com todo o cuidado.
A resposta tardara,
mas valera a pena:
embrulhada em celofane,
estava um papel branco,
imaculado,
onde um coração vinha desenhado
e ao lado, colado,
um pêlo do púbis,
com uns versos inspirados, num tal
João Roiz, poeta de antanho:
Partem meus pêlos por vós, meu bem
Tão desesperados pela falta
Das tuas doces visitas,
Tão sedentos de ti,
“Que nunca tão tristes vistes”
Outros pêlos caírem por alguém,
Senão por ti, por falta das duas doces
e húmidas arremetidas.
Achou a mentira deliciosa.
Onde já se vira, os pêlos
caírem por falta de ação?
Quando muito, por excesso,
Isso sim!
E respondeu:
Minha querida,
Recuso-me a ser responsável
pela calvície precoce dos seus
deliciosos pêlos do púbis,
pelo que, prometo, desde já,
visitas mais assíduas e um
farto crescimento capilar.
Jorge C. Chora
9/o8/2022
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