Ninguém entendia o que dizia, não por ser profundo ou
misterioso, mas pelo simples facto
de não se perceber o que dizia.
A placa mal feita e o pavor de gastar dinheiro a mandar fazer
outra, levavam-no a gostar de pensar que à medida que envelhecia, se tornara um
sábio porque ninguém conseguia seguir-lhe o pensamento!
Senhor de muitas patacoadas, agravava a sua situação ao
pensar-se encantador e acima de tudo, bonito. Com o cabelo amarelo-sujo, boné coçado
na tola, assemelhava -se a um boneco jogado fora.
Pelava-se por dizer mal, fingia detestar dinheiro, mas só
pensava nele e desprezava quem não o tinha e ainda mais quem lho pedia. Nunca
dera nada a ninguém, sem receber ou esperar receber o dobro, mas achava-se e
proclamava-se um benfeitor.
Saiu do café com dois amigos, esbracejando, mostrando ao
mundo quem julgava ser, com a mão estendida, criticando a mendicidade, invetivando
os pobres, quando um maltrapilho lhe colocou na mão dois amendoins dizendo:
-E não digas que nunca te dei nada!
Jorge C. Chora
14/08/2022
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