domingo, 14 de agosto de 2022

O BENFEITOR SÁBIO


Ninguém entendia o que dizia, não por ser profundo ou misterioso, mas pelo simples facto

de não se perceber o que dizia.

A placa mal feita e o pavor de gastar dinheiro a mandar fazer outra, levavam-no a gostar de pensar que à medida que envelhecia, se tornara um sábio porque ninguém conseguia seguir-lhe o pensamento!

Senhor de muitas patacoadas, agravava a sua situação ao pensar-se encantador e acima de tudo, bonito. Com o cabelo amarelo-sujo, boné coçado na tola, assemelhava -se a um boneco jogado fora.

Pelava-se por dizer mal, fingia detestar dinheiro, mas só pensava nele e desprezava quem não o tinha e ainda mais quem lho pedia. Nunca dera nada a ninguém, sem receber ou esperar receber o dobro, mas achava-se e proclamava-se um benfeitor.

Saiu do café com dois amigos, esbracejando, mostrando ao mundo quem julgava ser, com a mão estendida, criticando a mendicidade, invetivando os pobres, quando um maltrapilho lhe colocou na mão dois amendoins dizendo:

-E não digas que nunca te dei nada!

 

Jorge C. Chora

14/08/2022

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