O rapaz passeava o gato à trela, todos os dias, à mesma hora, no mesmo jardim. No lado oposto, também mais minuto menos minuto, uma rapariga passeava o seu cão. Nunca se tinham aproximado um do outro pois é consabido que cão e gato não são os melhores amigos.
Um dia o cão
soltou-se e correu na direção do gato. A dona, aflita, foi atrás dele. O gato
logo que viu o cachorro a aproximar-se, colocou-se em pé e, espanto dos
espantos, começou a ladrar em vez de miar.
Os animais
roçaram-se um no outro, o cão lambeu o gato e este encostou-se de modo meigo ao
cão que emitia latidos de agrado.
A dona, de
cabelo à escovinha, jeans rotos nos joelhos, olhos verdes, numa vozinha de gata
mimada, desculpou-se:
-Peço
perdão, o meu cão não tem o hábito de se soltar assim…
Mal acabara
de se desculpar quando o gato lhe saltou para o colo e se aninhou, ronronando
de prazer.
Logo de
seguida, o cachorro saltou para o colo do rapaz, escondeu o focinho na sua
longa cabeleira, abanando o rabo de satisfação.
Aproximaram-se
os donos, tentando que os seus respetivos animais retornassem a si.
Nem o gato
deixou o colo da jovem nem o cão o do rapaz. Às tantas a rapariga tinha a
cabeça tapada com a farta cabeleira do jovem e só se ouviam latidos e
ronronares, numa mistura harmoniosa, proveniente da cortina capilar que os
ocultava a ambos.
- Mas que
coisa assombrosa, os moços até ronronam…daqui a uns meses já estão separados…-
comentou uma jovem, que acabara de se zangar com o namorado
JORGE C.
CHORA
8/12/2022
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