Eram poucos os que não o consideravam um ser execrável. A sua forma de andar era, no mínimo, de um exibicionismo bacoco. Cada passo seu, assemelhava-se a um estranho passo de dança, a uma espécie de salto de onda mal surfada, a um espetáculo a solicitar palmas.
A sua fala
arrastada, pedante e muito afetada, desagradava até às mais irritantes
desocupadas da classe alta.
Um belo dia,
quatro das suas fiéis inimigas, viram uma mulher, mal trajada e bastante suja,
a querer beijar-lhe a mão e ele a retirá-la, de um modo delicado e afável.
O mal-estar
do cavalheiro era notório.
-Olhem só o
estupor… coitada da mulher… afastada como uma leprosa…- comentaram as mulheres.
Não quiseram
perder a oportunidade de se aproximarem da andrajosa para colherem mais umas
achas para a fogueira.
-Então a
senhora foi escorraçada pelo homem? É um mal-educado…tem a mania que é mais do
que os outros…
-Não digam
isso minhas senhoras! A minha neta deve-lhe a vida, se ele não tivesse pagado a
operação…
-Ele é um vaidoso,
já viu como ele anda e fala…
-Ó minhas
senhoras, eu conheço-o desde bebé… ele nasceu com uma perna mais curta e
disfarça…
-E a fala…
já viu…
-Por amor de
Deus… em criança ele viu o pai morrer atropelado e ficou gago… é uma forma de
ninguém notar… Ele só não ajuda quem precisa, se não puder… faz das tripas
coração…
E as
desocupadas, mal isto ouviram, gritaram, furiosas em uníssono:
- A mulher é
louca! Só nos faltava agora apresentar-nos o Execrável como um ser amoroso!
Jorge C.
Chora
19/12/22
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