O senhor estava reformado e era importante na aldeia. Amante
do bom vinho, do assim-assim e também do mau, quando não havia outro. Tinha a
particularidade de nunca andar aos ziguezagues: caminhava direito que nem um
fuso, embora não evitasse os obstáculos. Gostava de ser útil e uma das tarefas
de que se incumbia era a de fazer os registos de nascimento da aldeia e de os
levar até à vila, pois estava-se já no tempo da república.
Por vezes ou melhor, a maior parte das vezes, preenchia a
certidão ou prestava as declarações já na vila, e nem sempre os nomes
coincidiam com o que lhe tinha sido dito.
Uma família, farta de ver trocados os nomes, recomendava ao
escriba:
-Veja caro senhor que nós somos Laranjo de apelido.
Pedimos-lhe que se recorde…
-Caros amigos, não sei eu outra coisa…é mais fácil
esquecer-me do meu do que do vosso…
-Muito obrigado. Faça vossa mercê boa viagem e que Deus lhe
pague…que da nossa parte também já contribuímos…
Quando a certidão regressava com os selos legais, os pais
descobriram, da primeira vez, que tinham tido um Pereirinha e não um Laranjo. E
durante muitos anos a cena repetiu-se do mesmo modo: da 2ª coube-lhes receber
uma Figueira, depois um Pessegueiro, seguiu-se uma Nespereira e um Laranjal e
por fim uma Ameixeira e um Damasqueiro.
A família bem tentou mudar os apelidos, mas quem os recebeu,
após ouvir as reclamações, inchou o peito e sentenciou:
-Ou fica tudo na mesma ou ficam a chamar-se a família Pomar!
Não mudaram os nomes, mas o que é facto é quando realizavam
as suas reuniões e almoços de confraternização, a vizinhança resumia o
acontecimento:
-Mais uma festa da família Pomar!
Jorge C. Chora
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