sábado, 22 de agosto de 2015

A SAGA DA FAMÍLIA POMAR

                                                                                                         
O senhor estava reformado e era importante na aldeia. Amante do bom vinho, do assim-assim e também do mau, quando não havia outro. Tinha a particularidade de nunca andar aos ziguezagues: caminhava direito que nem um fuso, embora não evitasse os obstáculos. Gostava de ser útil e uma das tarefas de que se incumbia era a de fazer os registos de nascimento da aldeia e de os levar até à vila, pois estava-se já no tempo da república.

Por vezes ou melhor, a maior parte das vezes, preenchia a certidão ou prestava as declarações já na vila, e nem sempre os nomes coincidiam com o que lhe tinha sido dito.

Uma família, farta de ver trocados os nomes, recomendava ao escriba:

-Veja caro senhor que nós somos Laranjo de apelido. Pedimos-lhe que se recorde…

-Caros amigos, não sei eu outra coisa…é mais fácil esquecer-me do meu do que do vosso…

-Muito obrigado. Faça vossa mercê boa viagem e que Deus lhe pague…que da nossa parte também já contribuímos…

Quando a certidão regressava com os selos legais, os pais descobriram, da primeira vez, que tinham tido um Pereirinha e não um Laranjo. E durante muitos anos a cena repetiu-se do mesmo modo: da 2ª coube-lhes receber uma Figueira, depois um Pessegueiro, seguiu-se uma Nespereira e um Laranjal e por fim uma Ameixeira e um Damasqueiro.

A família bem tentou mudar os apelidos, mas quem os recebeu, após ouvir as reclamações, inchou o peito e sentenciou:

-Ou fica tudo na mesma ou ficam a chamar-se a família Pomar!

Não mudaram os nomes, mas o que é facto é quando realizavam as suas reuniões e almoços de confraternização, a vizinhança resumia o acontecimento:

-Mais uma festa da família Pomar!

Jorge C. Chora



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