Largou o calhamaço em cima da mesa e esta vergou devido ao
seu peso. Pousou a mão sobre ele, afivelou um ar sério e num tom de voz
tonitruante falou assim à assembleia:
-Com a autoridade que me dão as minhas leituras e reflexões,
cabe-me esclarecer, bom povo aqui presente, que há só um modo de vencer a
crise: é pelo trabalho árduo, pelo suor derramado. Mas este suor de que venho falar-vos, é mais do
que uma figura de estilo. É ele que vos vai ajudar a ganhar, desde este
momento, o dinheiro que tanta falta vos faz.
A assembleia agitou-se e redobrou a atenção.
-Como fazer? Tomem o máximo de atenção, pois é preciso
cumprir algumas normas. O primeiro passo é inscreverem-se naquela mesa e
pagarem uma quantia simbólica. O segundo é comprarem, por um preço acessível,
uma proveta com a qual recolherão todas as gotas de suor possíveis, sejam
vossas ou de outrem. A que se destinam essas gotas de suor? Devem ser entregues
na fábrica de essências, pois com elas se farão perfumes, bastando
inscreverem-se como compradores dos mesmos, para constarem na lista de
fornecedores da matéria-prima. Os primeiros mil a inscreverem-se, terão
direito, mediante o pagamento de uma módica quantia, a serem vendedores da
fábrica.
Uma multidão desesperada avançou para a mesa de inscrições
de modo desordenado, lançando o cartapácio ao chão. O neto de um dos
assistentes, mira o alfarrábio e grita sem parar:
-O livro não tem nada escrito! Nem uma linha!
Quando a multidão tornou a olhar para a mesa do orador, já
ele lá não estava e pairava no ar um cheiro a enxofre.
Jorge C. Chora
Sem comentários:
Enviar um comentário