O sino chamou-lhe a atenção, entre os vários objectos
existentes na prateleira da loja: pequeno, sem ser minúsculo, de bronze e com
um apoio para poder ser fixo. Era ideal para a sua futura casa de campo.
Inteirou-se do seu preço e arrepiou-se. Temeu não ter
consigo o dinheiro suficiente. Rebuscou os bolsos e foi à justa que conseguiu
comprá-lo.
Passados alguns anos construiu a almejada casa. À entrada, no
pilar esquerdo do portão, pendurou o sino. Sempre que saía ou entrava, tangia-o
e quase o acariciava. Adorava o som e à medida que o tempo passava mais dele
gostava. Quando chovia, apressava-se a limpá-lo.
Um belo dia, ao regressar a casa, deu pela sua falta: tinham-no
roubado, assim como ao respectivo apoio.
Meses depois, uns amigos contaram-lhe que numa determinada
terra havia um sino, em tudo semelhante ao seu, com fama de ter sido roubado.
Acontecia no lugarejo um estranho fenómeno, pois a população tocava-o de hora a
hora. Os “donos” do sino, furiosos com a questão, envolveram o badalo num pano,
mas isso não evitou que ele continuasse a ser tocado às horas e meias horas. Mudaram-no para as
traseiras da casa e ainda foi pior, porque ele soava para além das horas
anteriores também aos quartos de hora.
Saturados com o que se estava a passar, os falsos
proprietários, após uma rápida troca de opiniões, resolveram desmontá-lo e
deixá-lo à porta da casa do verdadeiro dono.
O legítimo proprietário ao vê-lo, recolheu-o e colocou-o
numa varanda a que só ele e a família tinham acesso. Agora todas as manhãs faz
soar o sino para comemorar o magno acontecimento diário: o nascer do sol.
A família, exasperada com o toque de alvorada, pensa seriamente
na hipótese de dar sumiço ao maldito sino,não falando na vizinhança.
Jorge C. Chora
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