domingo, 16 de agosto de 2015

O SINO



O sino chamou-lhe a atenção, entre os vários objectos existentes na prateleira da loja: pequeno, sem ser minúsculo, de bronze e com um apoio para poder ser fixo. Era ideal para a sua futura casa de campo.

Inteirou-se do seu preço e arrepiou-se. Temeu não ter consigo o dinheiro suficiente. Rebuscou os bolsos e foi à justa que conseguiu comprá-lo.

Passados alguns anos construiu a almejada casa. À entrada, no pilar esquerdo do portão, pendurou o sino. Sempre que saía ou entrava, tangia-o e quase o acariciava. Adorava o som e à medida que o tempo passava mais dele gostava. Quando chovia, apressava-se a limpá-lo.

Um belo dia, ao regressar a casa, deu pela sua falta: tinham-no roubado, assim como ao respectivo apoio.

Meses depois, uns amigos contaram-lhe que numa determinada terra havia um sino, em tudo semelhante ao seu, com fama de ter sido roubado. Acontecia no lugarejo um estranho fenómeno, pois a população tocava-o de hora a hora. Os “donos” do sino, furiosos com a questão, envolveram o badalo num pano, mas isso não evitou que ele continuasse a ser tocado  às horas e meias horas. Mudaram-no para as traseiras da casa e ainda foi pior, porque ele soava para além das horas anteriores também aos quartos de hora.

Saturados com o que se estava a passar, os falsos proprietários, após uma rápida troca de opiniões, resolveram desmontá-lo e deixá-lo à porta da casa do verdadeiro dono.

O legítimo proprietário ao vê-lo, recolheu-o e colocou-o numa varanda a que só ele e a família tinham acesso. Agora todas as manhãs faz soar o sino para comemorar o magno acontecimento diário: o nascer do sol.

A família, exasperada com o toque de alvorada, pensa seriamente na hipótese de dar sumiço ao maldito sino,não falando na vizinhança.


Jorge C. Chora

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