segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O PESO DO ARREPENDIMENTO

                                                                                                                  

Um velho e sabido falsário, trapaceiro quase desde o berço, foi apanhado em flagrante delito, após anos de impunidade. Identificado como o mentor de uma extensa quadrilha, foi julgado com toda a pompa e circunstância.

 Servindo-se das suas artimanhas, entrava no tribunal, caminhando como um”velhinho” trôpego, com os lábios trémulos, fazendo vénias consecutivas a todos os que lá se encontravam. Quando respondia às perguntas, era de modo vacilante e desconexo. Causava dó vê-lo e condoíam-se os presentes.

O juiz foi alertado para a marosca do cabecilha, por um funcionário da instituição que o via chegar todos os dias, longe do olhar do público, de automóvel, do qual saia de modo ágil, dirigindo-se do mesmo modo ao tribunal.

Confrontado com a situação pelo juiz, o falsário respondeu de forma compungida:

-Saiba V. Exª que eu ao entrar nesta veneranda e respeitável casa, começo a pensar no que fiz… e o peso do arrependimento apossa-se de mim. Espero que V.Exª leve em linha de conta este meu arrependimento, quando proferir a sentença… - Enquanto pensava para si próprio -  Espero que acredites, meu trouxa,  que eu tenho mais que fazer e encomendas de dólares para satisfazer…
E o juiz, com um sorriso matreiro, dizia-lhe:

-Com certeza…com certeza…tudo será levado em linha de conta…pode contar com isso…

E mais não se diz sobre este falsário, sob pena de estarmos a instruir, inadvertidamente, outros sacripantas…


Jorge C. Chora

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