sexta-feira, 25 de novembro de 2016

CHARLIE CARLITOS

                                                     
Charlie, ou melhor, Charlie Carlitos, anda há semanas com um humor de cão. Acalentou o sonho, durante anos, de emigrar para os “States”. Aprendeu inglês com o sotaque americano, a que nem faltava o longuíssimo “ÓHÓHÓH YÁÁÁ”.

Afeiçoou-se à coca cola, filiou-se na classe dos ruminantes da pastilha elástica, frequentou “macdonalds” e comeu as medonhas “french fries standardizadas” , de batata sensaborona.
Diga-se, de passagem, que esta ambientação foi facílima, porque, mesmo na aldeia, havia convertidos ao modo de vida do outro lado do mar.

Fez das tripas coração e, imaginem, mudou de Carlitos para Charlie para uma mais fácil integração nos “States”. Arrependeu-se a tempo da americanização do nome e amenizou a sua atitude traiçoeira para com o país amado, deixando acoplado ao Charlie o seu antigo nome, passando a ser o Charlie Carlitos.

Zangou-se com todos os que tentaram adverti-lo de que não poderia esperar que o tratassem lá, como na aldeia. Como assim? Perguntava, irritado, acelerando a sua Harley, o que impedia qualquer conversa sobre o mesmo assunto.

Como se estava em tempo de eleições na terra do Tio Sam, aconselharam-no a ouvir o que os candidatos diziam, nomeadamente o multimilionário, sobre os mexicanos, latinos e outros que tais.
Quando isto lhe diziam, a sua fúria redobrava, perguntando, raivoso, o que é que ele tinha a ver com esses indivíduos. Explicavam-lhe que os portugueses eram confundidos, de propósito ou não, com essas etnias e que até eram considerados não brancos. Torcia o nariz, fungava e dizia entre dentes: vai embarretar outro.

Certo, certo, é que passou daí em diante, a ouvir os debates com atenção e foi ficando consciente das propostas estranhas que se iam fazendo em relação aos estrangeiros …

No dia das eleições não se deitou. Desde que soube quem foi o vencedor, contraiu, ou parece ter contraído, a doença do humor de cão.

Agora, sempre que passa pela sua Harley, olha-a de lado e diz:

-Sei lá se não pertenceste ao milionário…


Jorge C. Chora

Sem comentários:

Enviar um comentário