Charlie, ou melhor, Charlie Carlitos, anda há semanas com um
humor de cão. Acalentou o sonho, durante anos, de emigrar para os “States”.
Aprendeu inglês com o sotaque americano, a que nem faltava o longuíssimo “ÓHÓHÓH
YÁÁÁ”.
Afeiçoou-se à coca cola, filiou-se na classe dos ruminantes
da pastilha elástica, frequentou “macdonalds” e comeu as medonhas “french fries
standardizadas” , de batata sensaborona.
Diga-se, de passagem, que esta ambientação foi facílima,
porque, mesmo na aldeia, havia convertidos ao modo de vida do outro lado do
mar.
Fez das tripas coração e, imaginem, mudou de Carlitos para
Charlie para uma mais fácil integração nos “States”. Arrependeu-se a tempo da
americanização do nome e amenizou a sua atitude traiçoeira para com o país
amado, deixando acoplado ao Charlie o seu antigo nome, passando a ser o Charlie
Carlitos.
Zangou-se com todos os que tentaram adverti-lo de que não
poderia esperar que o tratassem lá, como na aldeia. Como assim? Perguntava,
irritado, acelerando a sua Harley, o que impedia qualquer conversa sobre o
mesmo assunto.
Como se estava em tempo de eleições na terra do Tio Sam, aconselharam-no
a ouvir o que os candidatos diziam, nomeadamente o multimilionário, sobre os
mexicanos, latinos e outros que tais.
Quando isto lhe diziam, a sua fúria redobrava, perguntando, raivoso,
o que é que ele tinha a ver com esses indivíduos. Explicavam-lhe que os
portugueses eram confundidos, de propósito ou não, com essas etnias e que até
eram considerados não brancos. Torcia o nariz, fungava e dizia entre dentes: vai
embarretar outro.
Certo, certo, é que passou daí em diante, a ouvir os debates
com atenção e foi ficando consciente das propostas estranhas que se iam fazendo
em relação aos estrangeiros …
No dia das eleições não se deitou. Desde que soube quem foi
o vencedor, contraiu, ou parece ter contraído, a doença do humor de cão.
Agora, sempre que passa pela sua Harley, olha-a de lado e
diz:
-Sei lá se não pertenceste ao milionário…
Jorge C. Chora
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